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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Dança... Teoria e Prática de quem aprende e/ou ensina

 


A internet nos trouxe o mundo. Isso é um fato.

A internet tem muita coisa boa. Também é um fato...

A internet tem mentiras. Isso também é um fato!

A internet tem todos os conhecimentos... será? É aí a divisória entre as duas afirmativas acima.

A maior arma de um pesquisador é sua curiosidade. Aprendi isso com meu falecido pai, doutor em Bioquímica, e que sempre me ensinou a questionar as fontes de quem ensina. Na faculdade, seja ela qual for, aprendemos a pesquisar, a refletir, a pensar e concluir algo. Isso é uma das ferramentas que jamais larguei quando fiz faculdades de Arquitetura e de Moda.

A dança, seja ela qual for, não está longe disso. Todas, sem exceção, tem história. Algumas com registros, outras com registros e hiatos temporais (atente-se sempre para isso) que é onde se criam os achismos. Aliás, o "achismo" por si só já é um indicador de dúvidas. Deveríamos mencionar e nunca afirmar sobre as informações sem provas. E dizer que "fulano diz que" ou "no livro tal de fulano, menciona que" para se livrar de assumir uma responsabilidade de criar o inexplicável (ainda) ou criar o inexistente. É essa parte que distorce e abre caminhos para afirmar aquilo que vende e justificar seus "erros" (ou falta de conhecimentos idôneos) para aprendizes de primeira linha.

Pesquisadores da dança deveriam apenas captar as informações, averiguar sua idoneidade e descartar aquilo que não presta. Assim seremos mais reais com a história até que alguém descubra algo diferente e comprove com documentos! Assim se procede... a história da humanidade tem duas versões: a dos escritores, que podem ser fiéis ou apenas escrever aquilo que os agrada omitindo outras informações e a dos cientistas, pesquisadores e todas as demais profissões ligadas a lógica da ciência por serem mais verídicas. Isso não quer dizer que escritores serão sempre assim! Existem fontes riquíssimas advinda de muitos escritores por serem, além de escritores, pesquisadores nato!

Teremos sempre "n" versões de uma história. Versão "baseadas em fatos reais"... já diz que pode haver interferências pessoais. Versão "documentário"... mostrará os achados físicos e, por ali, tentar traçar uma linha de raciocínio para a história contada. Versão "fictícia"... literalmente inventada; o que não a possibilita de ser embasada em fatos reais, mas que não corresponderá a um relato científico mesmo que este também seja usado como fonte de pesquisa.

De fato, no caso da dança, são inúmeros relatos e histórias muitas das vezes contados por gente de outro povo. Aí teremos as iniciais para um ponto de partida nas pesquisas. Mas se o tutor daquela dança é existente eu deixo o questionamento: por qual razão não devo acreditar nele se ele é o herdeiro e praticante de sua dança e registra a história dela? 

Deixo mais uma... se os tutores existem; ou seja, são reais e vivem, por qual razão não reconhecem aqueles que ensinam sua dança (de forma distorcida) e não os apoia? Deixarei sempre à parte o elemento oportunista dos tutores. Essa é outra questão quando não se trata de perpetuar a cultura de seu povo, mas de vendê-la para xenófilos.



 A prática? Ela advém de registros feitos, das descrições dos passos e daqueles que a perpetuaram como precisava ser e não como queriam que fosse. No caso de escolas de dança, o que pode mudar é o método de ensino, mas quase sempre os passos nunca mudam. Nas danças de matriz étnica há uma atualização que aparece e se perpetua naqueles artistas que fazem uma releitura segundo as fontes históricas (as registradas ou as orais) mas sem haver sequer distorções ou desconstruções da informação que se deseja passar. Nestas danças de matriz étnicas, quando não se tem tem um registro completo é onde se cria, por aproximação (acredito eu) aqueles "espaços" sem registros. Devemos tomar muito cuidado nesta hora e tentar ler as entrelinhas dos documentos! Ali deve ter algo que possa sugerir o que havia em algumas partes... infelizmente as culturas ágrafas ou sem algum registro mais confiável sofrem estes momentos nas invencionices da vida. Tradição e Conservadorismo...um ponto a pensar quando existem interferências atuais.



Sim, invencionices! Criar em prol da arte é uma coisa e criar em prol de si mesmo é outra! Apenas peço para fazer um paralelo imaginário e uso da minha própria vivência para exemplificar: sou carioca da gema (nascido em pleno Rio de Janeiro, capital), nasci de noite em bairro boêmio, não sei sambar e não ensino samba! Mas como sei flamenco se nunca fui à Espanha? Digo... comecei como muitos em fontes erradas; o que é muito comum e natural. Mas a curiosidade sobre a história me aguçou e comecei a delinear uma rota de estudos aqui no Rio de Janeiro e comecei a filtrar quem aparentemente mostrava aquilo que eu lia (leio até hoje!). Depois tive acesso a muitos artistas espanhóis reconhecidos e certifiquei-me daquilo que apendi aqui e com eles me reciclo sempre que posso. Ainda assim, sem nunca ter ido à Espanha por motivos pessoais, não sou diferente dos que foram, beberam na fonte e podem até saberem mais do que eu. Alguns eu até questiono se conhecem a essência da nossa dança ou apenas a faz por modismos, por talento e capacidade de absorverem o que pagam e captam e tantas outras perguntas que poderia deixar como reflexão mas que são distantes daquilo que é a tal dança. Estilismos ou "seiláoquê"? Há espaço honroso para estilismos quando se sabe o seu conceito...

Lidar com Teoria e a Prática da dança deveria ser uma questão de honra e de ética pra quem ensina e dever de aprender pra quem estuda. Vivemos em momento onde a informação veicula rapidamente com o poder da internet e onde sobrevivemos para ganhar, inclusive, o nosso sustento com o que achamos saber. Às vezes fazem comércio disso como um verdadeiro fastfood!

Deveríamos usar um pouco mais da capacidade reflexiva pra saber se o que ensinamos é lúdico ou realmente representa aquilo que aprendemos da história da dança.

Deveríamos ser mais honestos conosco mesmo para não ultrapassar o limite do conhecimento por conta da vaidade e do ego (ambos naturais em todo artista). Saber menos não é ruim! Se declarar nesse patamar é honesto e honroso! E saber supostamente mais do que os outros não o torna absoluto se tiver humildade e saber que sempre se tem mais a aprender e absorver para ensinar.

Sempre teremos algo a mais a aprender e a cada acréscimo poderá desconstruir algo do passado. E fica a pergunta, você está preparado pra abrir mão daquilo que aprendeu "errado" ou para "agregar" naquilo que está incompleto?

Ou prefere a zona de conforto da distorção cultural e participar de um grupo seleto que, com o passar do tempo, será segregado na história por não corresponder a uma realidade histórica? Quer fazer parte do grupo que poderá ser mencionado como "esse aí só inventava coisas..."?

Apenas pare pra pensar na sua contribuição histórica quando ensina história da dança e sua prática seja ela qual for.  E reflita na sua capacidade de ensinar as práticas que domina (não as que não servem).

Sobre quem dança eu acredito existirem apenas quatro tipos. Veja em qual você se enquadra e assuma! Será de bonito valor se reconhecer em uma delas e será honesto consigo mesmo e com os outros!

1) Bom professor e Bom Dançarino

2) Bom professor e Mau Dançarino

3) Mau professor e Bom Dançarino

4) Mau professor e Mau dançarino (neste caso é melhor mudar de profissão)

Pensar, refletir e escolher. A vida é assim. Difícil é aceitar o preço que se paga por uma escolha mau feita...mas nunca é tarde para mudar!

Em alguns segmentos da vida não acredito que devamos agir por impulso porque poderemos cometer falhas graves...