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segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Eu e 2022... minha retrospectiva


Precisei passar por situações diversas entre boas e ruins e me deparar com a autoanálise e tentar me perceber sem esquecer tudo o que me rodeia.

No que tange meu envolvimento com minha profissão eu passei a ser mais seletivo, mais criterioso e focado no que posso dentro do que quero. As aulas se encurtaram a grupos seletos de pessoas que já foram meus alunos e daqueles que me conheceram pouco antes da pandemia. Confesso que retirei o foco financeiro deste segmento a não ser para se custear sozinho sem que eu retire do meu bolso para tal.  O resultado foi a maior atenção evitando coisas comerciais que tomam o tempo de estudo e não ajuda alunos a crescerem no conhecimento. É farto o comércio destas coisas onde a ilusão de se "estar" flamenco naquele instante importa mais do que a consciência da arte em si, de verdadeiros professores que se importam com o crescimento dos aprendizes e não os mantêm refém de seus futuros por conta de mensalidades e tantas outras coisas que ensino aos meus alunos a não se deixarem enganar. O mundo dos sonhos imediatos ilude e afasta no aprendizado, criam-se repetecos de coreografias, se consome as "modas" do momento (o que não é ruim, mas de forma consciente), se dança de qualquer forma e surgem grupos amadores se dizendo profissionais e professores que até possuem talentos futuros mas totalmente despreparados ou imaturos para iniciarem o professorado. Aliás essa parte dói mais ainda quando são colegas profissionais (alguns com renomes até no estrangeiro) que alimentam esse comércio... melhor dizer "tosco" agora para não baixar mais o nível que existe. Isso sempre acontecerá em maior ou menor grau a medida que se facilita e se apoia estes momentos dando a qualidade atual dos artistas. A qualidade do que se ensina não se deve somente o quanto de conhecimento e vivências se têm, mas literalmente o caráter que constitui a pessoa. Baseado numa vivência na Escola Estadual de Danças Maria Olenewa aqui no Rio de Janeiro eu criei categorias que ouvi muitas vezes Dennis Gray (in memoriam) me relatar em nossos papos nos anos que ali ensinei. São apenas 5 que  servem justamente na arte da dança e do seu ensino. Usarei o termo "bailarino" para designar todo aquele que dança e "professor" para todo aquele que ensina.

1) Bom Bailarino e Bom Professor, o mais raro de todos

2)Bom Bailarino e Mal Professor

3)Mal Bailarino e Bom Professor

4) Mal nos dois! Este devia ser encaminhado para outro segmento, mas poucos tem a decência de dizer-lhe isso. Nunca aconteceu comigo, mas certamente teria uma conversa séria e dar minhas razões para tal. Já fui qualificado neste setor e ouvi de um grande artista pra eu sair de vez do Flamenco e da dança. Foram quase dois anos de depressão na minha vida e depois retornar com força total lembrando destes dizeres de Dennis Gray. Talvez me enquadre no anterior e ainda assim não me acho mal bailarino...

5) Oportunista, esse é o mais prolífero e anda nas quatro categorias acima. Conheci e conheço muitos! mas cada um tem que descobrir por si próprio.

A Flamenco y Modas passou a ser observada depois de décadas no comércio. Talvez seja a grife atual mais antiga neste momento onde afirmo nunca ter tido alguma loja física ou virtual. Sua longevidade se deve ao boca-a-boca, mais conhecido como fofoca. Houve quem tentasse me subjugar e me fazer perder tudo, mas sempre acreditei na lei do Retorno. Já vi outras nascerem, falirem ou simplesmente não se sustentar no mercado. Consegui chegar a valores justos e cabíveis a todos os bolsos sem desperdiçar a salutar ganancia de forma equilibrada. Faz tempo que descobri que "menos é mais" e não vale a pena ensinar a terceiros todas as técnicas que descobri ao longo dos anos pra não correr o risco de ver confecções daqui e do estrangeiro se desfazerem por incompatibilidades sociais e criarem as suas grifes pessoais. De fato afirmo que não levarei para o além tudo que aprendi. Descobri duas irmãs, as Asenjo de SP, que a empatia foi imediata, amor à primeira vista e que quero ensinar tudo o que sei a elas pois sei bem do aproveitamento desta herança que receberão enquanto eu puder ensiná-las. Este foi um dos maiores presentes deste ano! Dá até um alívio pensar nelas!

Como diretor do acervo histórico da Peña Flamenca Brasil me senti um pouco engessado pela falta de compreensão de muitos colegas artistas por não entenderem a grandiosidade deste projeto criado pela bailaora paulista Deborah Nefussi a quem comecei a admirar, a respeitar mais e não me sentir sozinho por pensar em nossas memórias até então não registradas. Isso não quer dizer que não hajam bons profissionais aqui!!! Não sei até quando estarei como diretor, mas sim estarei parceiro nas entrevistas e naquilo que eu alcançar neste projeto e pelo tempo que me quiserem ou deixarem. Aos atuais parceiros nesta jornada eu só tenho a agradecer por ter me aproximado mais e conhecer outros mais de perto. E foi numa destas jornadas que conheci a Syntia, uma aprendiz que também tive imediata empatia, quase virei chiclete dela! Ainda não a conheço bem, mas não creio que alguma qualidade nossa em desarmonia possa interferir no que está brotando entre nós... uma amizade nova e diferente das outras. Às vezes parece que estou sendo ou vendo o lado pessimista. Não é verdade! Apenas não mascaro o que percebo e sou muito transparente. E digo mais! A PFB me fez ver e reconhecer outros artistas fundamentais em nossa história!

Ciganos sempre serão uma de minhas paixões e o tempo tem me ensinado a moderar, a filtrar e ser consciente do mal que é ser xenófilo, pois xenófobo tenho certeza de que não sou. Mas entendê-los apenas como outro grupo social distinto com suas regras pessoais e qualidades boas e ruins como  quaisquer outros grupos sociais, saber lidar com eles respeitando-os como são em suas naturezas e, na medida do possível, ajudá-los numa melhor convivência entre nós os "garrom" ("não ciganos" no dialeto dos calons brasileiros). Com isso ceifei os xenófilos, os oportunistas e falsários enraizados no nicho artístico onde é notável a proliferação dessa gente como coelhos em constante reprodução.

Quando se quer o tempo sempre ensina e a maturidade ajuda a compreender melhor as fases da vida, a olhar pra trás e perceber o quanto de proveito tirou ou ignorou e fazer pela frente aquilo que se pode de maneira mais salutar ainda.

Minha mãe se foi há quase dois anos e circunstâncias me fizeram tomar difíceis decisões. Voltar a viver no seio familiar é reviver algumas emoções que abandonei quando fui morar sozinho há quase 20 anos, uma jornada enriquecedora de aprendizados entre erros, acertos e resiliências para entender até onde se pode voltar e seguir. Essa é uma nova história que se inicia mas sem dados o suficiente para avaliar agora a não ser o quanto aprendi a lidar com o outro morando só, a ser mais flexível e a determinar limites. Os laços familiares ficaram, porém segundo estas novas "marcas" individuais. Ao menos não somos irmãos intolerantes, mas sim vivemos em paz e isso é o que mais importa neste momento e, como qualquer relação, temos nossos laços pessoais.

Ainda assim precisei travar uma amizade antiga de mais de 30 anos por não conseguir tolerar, embora respeite a situação do outro, ouvir tanta coisa ruim a meu respeito quando os outros ao redor emanavam a felicidade de me ver bem, em paz e feliz ainda que com o coração disponível. Isso foi demais pra minha paciência e tolerância porque conseguia me deixar mal mesmo! Então dei a ela "férias" indeterminada. Ela tentou o contato, mas eu ignorei. Nada irá abalar esse momento tão bom que vivo agora. É lastimável assumir isso, mas é a mais pura verdade porque desisti de abrir mão de tanta coisa para viver essa amizade tóxica. Não sou super em nada e reconheci que devo me afastar se não consigo sequer ajudar. É muito difícil lidar com alguém com Bipolarismo, Borderline e alguns Tocs. Fiz tudo o que podia e vi que nestes anos todos não consegui ter um ano inteiro somando as alegrias que conquistamos. Muito difícil descobrir e aceitar isso em mim mesmo e tomar esta decisão. Nunca desejarei nada de ruim a ela ou a qualquer outra pessoa que tenha outras formas de vida, mas neste instante decidi respeitar minhas emoções e deixar o lado racional para ajudar nesta decisão tão dura e sofrida. Chorei algumas noites, perdi muitos sonos, me senti culpado algumas vezes por tomar esta decisão. Mas hoje vejo o quão acertivo fui. Ao perceber isso minha ansiedade se foi quase que totalmente e ainda trato disso em terapias. Espero controlar isso em breve e ter alta para seguir a jornada. 

Os sonhos se renovam, surgem outros e preciso escolher quais são passíveis de realizar para não me decepcionar comigo mesmo e não gerar expectativas. Faz parte! Isso mostra que continuo sabendo saborear a vida como me ensina todos os dias a arte Flamenca... degustar os dessabores e as alegrias da vida e ir sempre adiante e ser inexorável como o tempo que nos rege, ou seja, sempre pra frente evitando os retardos desnecessários.

A vida sempre é feita de escolhas e acredito que este ano fiz as melhores escolhas dos últimos tempos. Errei? Acho que algumas vezes e já estou consciente destas que reconheci. Se tem mais em algum momento os reconheço e procederei da mesma maneira de sempre.