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terça-feira, 23 de março de 2021

Partidas

Certeza sim... se nasce um dia e se vai em algum outro. A diferença entre eles é tudo o que se fez neste espaço. Assim é a vida. Devemos julgar a nós mesmos  segundo nossas consciências sobre o fato mais natural da vida que é este momento, vivo, encarnado, de estarmos aqui aprendendo até o último instante... Meu pai se foi em 20 de março de 2000 e neste dia 22 deste ano se foi minha mãe... A dor hoje é mais profunda e mais solene, mais enraizada, mais concisa, mais forte e mais carnal e tão importante quanto a de meu pai.

Mamãe já veio numa vida árdua onde teve que fazer muitas escolhas mais difíceis do que  imaginamos ou talvez pudéssemos suportar. Errou como qualquer outro ser humano, aprendeu muitas coisas aqui e demonstrou o tamanho de seu caráter e honradez ao sacrificar várias fases de sua vida em prol dos filhos. Sua vida dá um verdadeiro livro repleto de todas as mais profundas emoções por conta da extensa família, 20 irmãos no total, e que trazem tantas divergências e situações complexas em meio a tanta miserabilidade da vida do nordestino pobre; sua origem. 

Eu e meus 3 irmãos, Beto o mais velho e filho da primeira união de mamãe,  Adriana e por fim o caçula Gugu, recebemos de nossos pais a educação de acordo com o que eles achavam correto. Aliás, não existe fórmula para ser melhores pais. Os filhos trazem suas bagagens particulares para colocar à prova tais conhecimentos e ajudar a adquirir os demais conosco. Cada um de nós é essa resultante segundo nosso caráter mas com a mesma educação.

Mas hoje o foco é dela, nossa mãe Sônia. Sônia Maria de Lima que passou a usar o Samel de meu pai por questões nobres dele e que é outra história a contar... 

Mamãe enfrentou com uma coragem atroz: o câncer de cólon e as sequelas de um câncer feroz por tabagismo de anos que lhe rendeu a extirpação de parte de um dos pulmões. De todas as suas fraquezas talvez essa do vício tenha sido a maior na intensidade. Seguiu-se anos de tratamento, de idas e vindas em internações onde as sequelas pesaram e por conta de baixa saturação de oxigênio, frequentes crises de hipóxia causando-lhe demência parcial. Nós 4 fomos implacáveis neste momentos finais, nesse funil, nesse corredor que se estreitou até neste dia 22 de março, dois dias depois de 21 anos da partida de papai.

A pandemia veio dificultar nossos relacionamentos mas não impediu que em nosso plantões pudéssemos lhe acalentar, sermos inversamente seus pais lhe rendendo todo o carinho e amor que tínhamos nesse momento. Vê-la sofrer e não poder fazer nada além da atenção e do alento partiu-nos muitas vezes, destroçou nossos seres mas nos deu a chance de preencher as nossas lacunas pessoais com ela que, ainda combalida, teve muito a nos ensinar.

Ela foi implacável muitas vezes e na tentativa ser mais correta, sufocou fases pessoais; coisas dos  próprios atributos dela... e isso é entre ela e seu próprio ser energético. Nada podemos fazer a não ser respeitá-la e compreender seu jeito de ser ,de pensar e agir na vida.

Parece ser ruim falar assim, mas na verdade reconhecemos que parte de nossa essência de hoje não seria nada sem essa rainha em nossas vidas... Uma mulher de fibra, de honra, coragem selvagem para defender os filhos e de amor incondicional conosco e com os que ela teve verdadeiro amor. Até os que ela reclamava sempre, mas no fundo por não perceber o quanto ela os queria bem...era seu jeito de pensar e agir.


Não há como escrever tão pouco por quem foi tão grandiosa ao nosso lado...
Semi analfabeta, mas totalmente letrada na vida.
Mãe, te amaremos sempre e seu lugar é certo em nossos corações...
Siga sua jornada sabendo que seus ensinamentos estão em nossas vidas... para sempre.

Fica a saudade que só se resolve com o tempo ou quando algum dia em algum lugar a gente se esbarrar de novo e acabar com esta saudade...

Vai e segue seu caminho! 
 Te amamos...

Eu, Beto, Adriana e Gugu





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