O dançarino Ricardo Samel escreve suas impressões da vida, da dança e da moda mediante suas vivências com a Arte Flamenca.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
TRADIÇÃO, CONSERVADORISMO E MODERNIDADE NO FLAMENCO.
É fato que ao longo de sua história o Flamenco passou por fases que deram os diversos ramos de uma árvore genealógica extensa. Surgiram novos palos, novas danças e novos instrumentos foram incorporados. Mesmo assim a sua essência continua intocada e é isso que faz do Flamenco um estilo que perdura e avança no tempo.
A tradição torna a cultura perpetuadora dos ensinamentos e de sua formação inicial ainda que registrada verbalmente e passada entre familiares e amigos próximos de geração em geração. É uma forma de deixar intacta a raiz de um movimento seja ele qual for, sua forma de pensar e agir, suas vestes e costumes locais. Assim se faz a memória da história. Seus registros possibilitam contar seu crescimento.
O conservadorismo acaba se tornando hostil às inovações sociais, políticas e culturais impedindo o avanço em todos os sentidos inclusive o tecnológico. Existem várias culturas de base religiosa que se mantém como nos primórdios e como na Idade Média por acreditarem nas filosofias empregadas.
A modernidade leva em seu seio toda esta bagagem anterior, mas repleta de novos horizontes, novos caminhos e perpetua o ensinamento aliado ao avanço da própria humanidade, da própria ciência, da tecnologia e no desenvolvimento do pensamento. E tudo com a cara dos tempos atuais como o próprio nome já diz.
Acredito que o Flamenco está nesta fase onde rompe barreiras com o conservadorismo, mantém a tradição e se renova em vários aspectos acabando com tabus e dogmas de tempos passados. Vemos o cante bem renovado e com mesclas de estilos fora do Flamenco, o violão repleto de suingadas de outros gêneros e acompanhado de outros instrumentos nada flamencos e a dança completamente influenciada e fundida com vários outros estilos acadêmicos e folclóricos. Quebrou-se o tabu dos estilos masculinos e femininos de dançar levando-se em conta que a alma, a essência é primordial nos gêneros masculino e feminino na hora de executá-la. A soleá não é só de bailaoras, a alegria não é só com bata-de-cola e só para mulheres assim como a farruca não é só de homens e de calça comprida e em qualquer lugar pode-se tocar palillos (castanholas). Assim o é em todos os outros palos flamencos. Desde então a Arte Flamenca se renova e dá mais espaço para a criatividade, para a modernização e para a perpetuação de si mesma e reafirma em seu posto de mais um tipo de dança com ares andaluzes como já são o ballet, o jazz , o tap-dance e o irish dance.
A alma? Onde está? É ela a mola propulsora de tudo isso e sempre esteve no mesmo lugar: dentro de nós artistas e admiradores. É e será sempre aquele ser que se adapta, se transforma e não perde seu caráter, sua essência como no princípio de tudo. As plantas nascem, se multiplicam, se adaptam as intempéries do universo e continuam dando sementes e flores. Esse é o Flamenco como uma rosa que continua com seus espinhos, mas tão bela, perfumada e aveludada cada vez que brota em uma nova espécime híbrida nos dias de hoje.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Mantenha contatos comigo deixando aqui seus comentários e seus contatos.