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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Flamenco ou estilo Flamenco?

"Noche Flamenca"
Fábio Nin e Allan Harbas
(guitarras)
Isabel Rios (baile)
anos 90
Anos estudando, especulando, questionando, refletindo, gastando dinheiro e fazendo cursos, livros, apostilas, Cds e Dvds de diversos estilos dentro do Flamenco, muitas entrevistas gravadas com bailaores, cantaores e guitarristas, intercambios antigos através de cartas, coisas do baú e da atualidade...


Por qual razão faria isso? Simples resposta... estudando. Quero entender cada vez mais esta arte que escolhi e ensino. Procuro ser o mais fiel possível dentro de minhas condições aquilo que encontrei como essência desta arte: a representatividade das emoções humanas.

Desde que se tem notícias daquilo que conhecemos como Flamenco, a sua estrutura tem se aprimorado com o passar do tempo, se firmando melhor e aglutinando conhecimentos diversos para representatividades mil. Mas uma coisa nunca mudará: sua mais pura essência. Nunca importará para a emoção o quão veloz, contorcionista, alcance vocal ou seja lá o que for, para esta arte a não ser a mais profunda entrega emocional do artista. Seja tocando, cantando ou dançando, mas seguramente com consciência do que se faz. Nunca agregar domínio sobre si e sua arte será ruim a esta arte.

Recomendação ganha de Theo Dantes,
Sociedad de Baile Español
O que observo é o quanto novos talentos se embrenham nos mais diversos universos estudando, repito com letras maiúsculas, ESTUDANDO e fundindo com as mais originais e antigas técnicas do Flamenco. Lá fora verão estes talentos literalmente frequentando outros estilos de técnicas para emaranharem em seus trabalhos dando ao Flamenco mais uma cara nova: a do séc. XXI. Mas com total responsabilidade e total consciência daquilo que fazem.

Aqui no Brasil poucos destes artistas são sérios e levam seus estudos ao extremo enquanto que gente que sequer reconhece os palos e suas estruturas, já fundem, confundem e criam literalmente "coisas" que chamam de Flamenco por se utilizar de estilismos e de músicas aflamencadas. A diferença está na imagem utilizada como exemplo. A minha? Aquilo que fazem lá na Espanha. Destes que me refiro? De suas capacidades artísticas aflamencadas sem qualquer referência contextual flamenca; salvo referências literalmente espanholadas algumas vezes para justificar seus trabalhos.

Ainda que queiram vender suas bandeiras, Flamenco será único. Seus palos são universais, a estrutura de baile também será única, sua história também e sua representatividade sempre se transformará com o tempo... mas distorções são para leigos e não para estudiosos.

E é isso que me traz questionamento daqueles que ensinam e cairei no processo formador e reconhecedor daquele capacitado, ou não, a exercer e professar esta arte; no caso a dança que é meu setor. A parte da música e do cante parece ser muito mais rigorosa e disciplinadora.

em matéria de 2001
Não se mexe no passado, mas se constrói o futuro. Quisera eu que a nossa Lei 6533, a que reconhece o profissional em dança, fosse atualizada como tantas outras que necessitam. As brechas facilitam as porcarias ditas profissionais quando na verdade apenas alimentam seus egos inflados e sequer chegam perto do mais profundo estado de topor do Flamenco ou mesmo da responsabilidade de ensinar uma arte tão complexa como as outras danças acadêmicas.

"Ah, Ricardo, você se acha o melhor? Se acha dono da verdade?" Risos... já ouvi muito disso por aí e nunca usei estas expressões para mim mesmo. Digo uma coisa. Vai lá na Espanha e mostre seu trabalho... ou melhor, tente ensinar seu conhecimento a um maestro e dizer que conhece Flamenco! Diga que seu trabalho é fruto de muito estudo e pesquisa e que o representa como tal e é reconhecida. E completarei... qual destes maestros reconhece seu trabalho como flamenco? Ou estilizado? 

Aliás, isso te importa? Reformulo a pergunta: O que lhe significa o Flamenco e o quanto ele está na sua vida?

Posso falar de amigos profissionais brasileiros que, mesmo que eu não goste de seus estilos, merecem meus respeitos por serem realmente flamencos!

Confesso que nunca fui a terra natal do Flamenco assim como outros colegas profissionais. Ainda me lembro dos poucos elogios que recebi daquilo que faço. Não por ser melhor em alguma coisa flamenca, mas por ser genuíno naquilo que ensino. Nunca fui aclamado por nenhum deles como o melhor naquilo que faço, mas reconhecido no esforço, nos estudos e na veracidade daquilo que ensino. Pode ser que eu não seja o melhor, mas absolutamente não invento conhecimentos flamencos.

A maturidade chega e os questionamentos aprofundam. Modismos no visual, na cena mista e algumas vezes mistificadas, modernismos que dissimulam conhecimentos profundos e certamente pouco estudados.

Justificarei então minha visão: meu foco é diferente, mas não errado. Apenas não sigo o mesmo rótulo de domínio de variados passos difíceis, complicados como referencial de sapiência. Versatilidade corporal e velocidade nos pés nunca foram referencial para saber flamenco. Óbvio que isso não desqualifica quem o faz com tamanha precisão, sapiência e sem enganar a essência do Flamenco. Admiro a capacidade daqueles que hoje, jovens ou não, conseguem aglutinar isso ao seu trabalho.

Quando vejo artistas do porte de Manuela Carrasco e José Galvan, só para citar um casal, e tantos outros já amadurecidos pelo tempo penso nisso. Tantos outros artistas que seguem aquilo que o tempo físico permite, mas nunca distorceram a mais pura e genuína base do Flamenco arraigada em estudos e vivências pessoais: a emoção.

Aliás  pra mim Flamenco é mais que arte, é uma forma de Ver e Sentir a vida.
com Alessandra  Baiocchi, Paula Segadas, Isabel Rios e Mara Lúcia na Guitarra
anos 90, Teatro Municipal de Niterói

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