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terça-feira, 17 de junho de 2025

Ouvir sem se ferir

 Passei por um ciclo em minha vida em que a fala alheia me importava, mexia comigo e muitas vezes eu entrava na depressão por acreditar nelas. Com o passar do tempo aprendi a escutar, mas ainda dava respostas na defensiva quando me sentia agredido de alguma forma. Depois comecei a escolher o que ouvir... mas ainda sentia, me feria, criei mágoas, rancores e às vezes sentia necessidades de me justificar.

O tempo foi passando e a maturidade se ampliando porque existe algo de muito importante que é se entender no universo, a importância do seu existir e as razões pelas quais você está aqui. A essa inquietude reconheço como a tal espiritualidade que muito leio, ouço e eu mesmo falo. Reconhecer minha composição astral e física é algo que dirá respeito a mim mesmo.

Mas sempre foi difícil entender que cada um de nós se percebe diferente no mundo e muitas vezes questionamos os outros por divergir de suas essências. São verdades distintas segundo aquilo que cada um percebe sobre si diante do mundo. Aprendi a respeitar isso, a ver estas diferenças e a ouvir. Mas nem sempre lido bem, ainda, com isso. Apenas entendo que aquilo que não me cabe não me macula mais como antes independente da intenção do outro.

Existe um provérbio cigano que diz "aquilo que caiu da minha carroça não me pertence mais." Essa frase ecoa em mim mostrando que o passado está lá no seu devido lugar, que não deve ser esquecido e que se houve sofrimentos será com a resiliência que se chega a superação. Consigo lembrar e falar mas não sofro mais. "Caiu da minha carroça".

Então entendi que ouvir os outros também se aprende e se entende onde eles se encontram... às vezes mais atrás, no mesmo nível mas em paralelo ou mais adiante que eu. E mesmo assim as falas dos outros que não me cabem não me doem mais mesmo que nos gostemos. Amigos sempre fazem isso: expõem o que pensam no intuito de ajudar. O que não percebe é que a forma como faz ou diz pode, eventualmente,  machucar o outro sem perceber. E quando o outro se declara, quando não guarda pra si, cabe a nós nos redimir.

Aprendi que "nem tudo deve ser dito a todos e nem todos devem saber de tudo". Esse é um filtro do qual ajuda no equilíbrio das exposições. Escolhi meu silêncio com menos exposições pessoais externas, principalmente nas mídias sociais onde muitos se baseiam nelas para direcionarem suas vidas. Já fiz isso e ganhei foi mais dor de cabeça do que fazer novas amizades. Auto preservação e muita paz!

Mas se tem algo que me é característico é a sinceridade... alguns gostam de mim por isso e outros me odeiam pela mesma razão. Não dou atenção mais a segunda sentença da frase por entender que ali não ganho nada a não ser os tais aborrecimentos de falas e sentimentos que não me cabem mais.


A seleção precisa sempre de nossa ajuda que é o mais óbvio de todas as nossas características: o arbítrio. Hoje sei ler, ver e ouvir muitas pessoas sem me esbarrar em algum tipo de sentimento negativo quando alguma destas falas ressoam contrárias ou ruins; salvo quando vem como crítica construtiva e que muito ajuda nas reflexões. Aprendi a respeitar essas falas e a não confabular com elas quando não existe esse respeito mútuo. Muito menos a me justificar porque não há o respeito e menos ainda o interesse em me ouvir. Eu falo e você escuta. Você fala e eu escuto. Discutimos e chegamos a algum lugar, ou não, respeitamos nossos pensamentos e apenas seguimos! Simples assim! Não dói quando se entende isso! As vezes só escuto e não falo, não emito posicionamento nenhum. Apenas um "te entendo" por bastar em algumas situações.

Só não tenho mais tempo para egocentrismos e o desrespeito. Se alguém quer escutar elogios meus, o farei se eu realmente gostar. Caso contrário fico em silêncio. Eu penso que aquele que pergunta é porque quer uma resposta. Mas precisa aprender a respeitar aquilo que receberá, consoante ou não naquilo que projeta como resposta. Quando ela não vem consoante eu não me aborreço mais, não me dói mais porque não é pra mim. Infelizmente vejo muitas pessoas que se sentem magoadas, injustiçadas, tristes ou decepcionadas por nutrirem somente respostas consoantes às suas expectativas. Precisam aprender a lidar com as respostas negativas quando a pergunta requer uma decisão. Não respondo aquilo que deseja para agradar ninguém...

Aprendi a sentir a empatia sem me envolver. Empatia é a faculdade de entender e até mesmo sentir o que o outro sente mas compreendendo que esses sentimentos e momentos não são meus. É um ato praticamente de solidariedade ao outro mas consciente de que aquilo não é meu, portanto não é problema meu embora possa estar ali dando um alento e ajudando, quando pedido e merecido, a sair daquela situação. Ainda assim dentro de meus limites... Quando sou ignorado, nada me diz. Apenas esqueço e sigo adiante. Mas também se sou pressionado a fazer para satisfazer o outro sem meu consentimento, eu não curto! E é aí que me afasto no silêncio. 

Essas falas podem servir de carapuça a muitos; o que não é meu objetivo. Mais uma vez digo, saber ler, refletir e decidir depois. Razão e emoção precisam andar juntas!


Sim, quando reconheço meu erro tento saná-lo ou aliviar as consequências e não repito mais. A vida me mostrou que repetir erros é total demonstração da falta da resiliência! Principalmente quando recebe um ensinamento e acha que o aprendeu...  E hoje quero fazer sobrar tempo pra curtir melhor a vida.

Sempre que estou em terapia sou lembrado dessa figura abaixo. A legenda poderia ser "vem comigo pra eu não fazer merdas".


Ferir o outro sem querer não é um erro, mas falta de atenção. Como citei lá encima, cabe ao outro se manifestar e também reconhecer quando a gente se redime. Eu ainda me pergunto se seria mesmo uma ferida que causei a pessoa ou se seria ela não respeitar o posicionamento dos outros quando destoante do seu. Também respeito se ela assim estiver. E quase sempre só se descobre quando algo acontece nessa história das falas...

Porque ser sincero pode doer algumas vezes ou ser libertador em outras.
Uns gostam e se aproximam por isso indiferente ao posicionamento que tomo. Preferem a sinceridade mesmo que doa e ainda assim, sabem lidar com isso. Outros se afastam pela mesma razão, mas por não gostarem e nem respeitarem quando a discordância é direta mesmo sem o intuito de ferir.

Não gosto da ilusão. Prefiro assim...


Ouvir sem se ferir.
É isso.

E mais uma vez a lição é sempre a mesma: