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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Viajando nos meus pensamentos...

 Quando se relacionar? É preciso? Como estabelecer o nível destas relações humanas?

Sabe, ao mesmo tempo em que gritar faz parte de um ciclo o silenciar também pede retorno. Lidar com as pessoas... essa arte de dar laços distintos com aqueles que te cercam no seu perímetro, desde o mais próximo ao mais distante. Pergunto outra vez, é preciso?

Tantas vezes falo da dificuldade de ser empático quando necessário, de entender o outro e, pela mesma condição humana, querer o mesmo na direção oposta. Repito que também sou humano! As mídias sociais ajudam e atrapalham ao mesmo tempo porque podem aproximar ou ajudar a afastar-se de pessoas.

Aliás, por maior que seja a consciência de que o Tempo não regride, dá vontade de fazer como em alguns filmes de ficção e poder reviver alguns instantes do passado para algumas vezes resgatar aquela felicidade daquele tempo e de transportar para os dias atuais.

O isolamento da recente pandemia do Covid-19 deu pra mostrar o quanto somos e continuamos falhos com essa questão das relações! Um caos emocional se estabelece e seu retorno estremece tantos conhecimentos sobre as relações. Revalidá-las com outra forma...

Filosofias absolutas por si se mostram mais flexíveis, as vezes mais tolerantes e outras o seu revés disseminando tudo aquilo que menos precisamos: desamor,  desrespeito e todas as formas que te empurram pro limbo. Nem sempre dá pra ser resistente e naturalmente se cai. Mas poucos conseguem subir sozinhos e às vezes sobe-se com a ajuda de outros. Relações humanas tb é isso!

Essa certeza de que se nasce só e só se vai me parece cada vez mais forte e não dá pra explicar o quão solitário é essa jornada de auto polimento. Teorias virando práticas.

Aliás, me aborrece demais quando as verdades alheias tentam ser impostas sobre a sua. Não nego que já pratiquei isso, mas aprendi a entender o quanto cada um consegue absorver conhecimentos distintos e o quanto conseguem ser resiliente com suas vivências; o que não significa ser iguais as suas. Temos a terrível prática de julgar o outro em seus atos sem apenas apreciar suas escolhas não importando sua preferência.  É difícil se resolver sem mesmo se observar no espelho. Ser auto analítico impõe alguns isolamentos com os próprios pensamentos. Somos cada um uma partícula única e sem gêmeos, que precisamos nos entender e se descobrir em essência neste vasto universo aonde o meio interfere nestas observações e podem influenciar nas escolhas. Só que sempre se cai em julgamento dos outros. Isso afasta, repele, pode decepcionar ou fazer o inverso atraindo semelhantes e trazendo um pouco mais de conforto, tranquilidade e perceber que não se está só mesmo que sua jornada seja sempre solitária no sentido da própria existência.

Talvez o mais difícil seja adquirir a confiança e a parceria com o outro. Cada vez que as diferenças aparecem e não há o interesse mútuo de conciliação resta o isolamento ou melhor, a separação sem isolamento, porém com respeito. Às vezes viver sozinho mas sem perder as conexões com o mundo e com os outros. 

A arte de escolher um caminho sempre significa em deixar outros caminhos. Escolhas são assim. Portas que aparecem e vc decide qual vai abrir.

Trazer à tona minhas mais íntimas falas não é querer ser aceito ou ser rejeitado, mas apenas redescobrir o quanto os próximos te observam, respeitam e desenvolvem conexões... ou apenas ajudam na rescisão delas ou a remodelação dessa relação. Todas as vezes que se prioriza o sentimento alheio sobrepujando o seu a sensação de constante perda é eminente. Não é priorizar essa emoção, mas entender o tamanho das conexões e redirecionar o valor delas sempre lembrando que isso pode doer e pode ser necessário. Se for uma escolha que traga benefícios ajudando a si mesmo sem ferir o outro, por qual razão não a escolher?

Entender que o tempo físico delimita algumas questões, te pede reavaliar decisões e buscar internamente outra forma de pensar, de agir e de reciclar o círculo de conexões, de novos contatos, novas vivências e entender que ser assim não é um privilégio, mas a característica de quem sempre busca um algo a mais.

Hoje tenho vontade de viver no mito da caverna de Platão, mas com janelas e portas para o mundo, com plantas dentro da caverna, com luz, água e tudo aquilo que dá prazer mesmo que sozinho e sem macular-me. Um isolamento parcial onde recebo pessoas porque não acredito em auto existência e auto suficiência. 

Ah sim! Disponibilizar publicamente aqui o que penso é me amostrar para quem tem acesso, me disponibilizar para responder os recados quando existem... atualmente poucos leem, comentam ou tomam alguma atitude para si mesmo. O importante é o que penso e o que registro aqui. Retrucar o que escrevo também não é uma obrigação,  mas uma escolha de quem lê. 

Aqui no blog meu diário é quando aperta o pensamento e a fala do verbo se cala. Viajar nos meus pensamentos é viajar em mim mesmo e tentar apenas deixar esse registro físico de um indivíduo. Eu mesmo me visito aqui com frequência e avalio o que escrevi. Esse é um dos meus espelhos...

Já diz o dito popular que toda história tem dois lados, que devemos ouvir a ambos mas ninguém consegue perceber que a sua história é a sua percepção do mundo, a sua vivência e que seus atos causam impressões nos outros (o lado B das histórias) que nem sempre te trazem aos ouvidos. Às vezes quando chegam vem pelo típico "telefone sem fio", uma forma de "leva e traz" onde pode ter pontos aumentados ou diminuídos pela forma como absorveram a história. E isso não quer dizer que o outro esteja errado! Apenas percebe diferente de vc.

"Quem conta um conto aumenta um ponto". Escrevi um livro contando meus pontos daquilo que achei interessante revelar. Gosto muito de uma fala que diz "nem tudo deve ser dito a todos e nem todos devem saber de tudo". Assim pontuei minhas histórias nesse livro... minhas verdades ainda a serem publicadas.

Enfim, se nasce e se vai sozinho. O que importará é tudo o que fez neste intervalo. E esse registro é único e intransferível. É a sua história registrada no livro que contém inúmeras histórias onde cada vida se vive uma faceta de personagem único. Nunca dará pra voltar e refazer o que já se registrou, mas sempre dá pra alterar o rumo e o final dessa mesma história enquanto se está existindo...

Quem não se lembra do "PENSO, LOGO EXISTO"?



quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Quebrei meu muro de 30 anos!

Sabe, todas as vezes em que quis abrir o verbo para me libertar, algo acontecia em meu entorno e me fazia agir ao contrário. Me fechava cada vez mais diante de algo que era, e ainda é até hoje, assustador. Viver sob o olhar de reprovação, do preconceito, do desdém e do deboche camuflado, de estigmas de familiares, dos amigos e do próprio círculo social não é nada fácil e causa marcas profundas. A saída que encontrei na maioria das vezes foi enfiar a cabeça debaixo da terra, de criar um castelo sem portas e me proteger.


Dia 01 de dezembro deste ano segurei a Angelina em meu colo. Uma criança de apenas 30 dias de nascida, soronegativa e filha de pais soropositivos. Minha garganta ficou entalada porque ela me deu esperança e vi que toda teoria que vi nos noticiários eram verdades. A ciência avançou e trouxe a possibilidade de pessoas soropositivas ou sorodiscordantes terem seus filhos sem o vírus do HIV. Fui apenas dar testemunho para um grupo fechado no posto de saúde que me trato para falar a vários profissionais dali e para outras pessoas sobre a forma de tratarem qualquer pessoa que necessita de ajuda. Ainda demonstrei um pouco da minha arte dançando flamenco.

Angelina foi a força que eu precisava, a gota que transbordou meu copo e a pedra que derrubou meu castelo. À noite escrevi no meu perfil do Facebook o desabafo e assumi abertamente estar soropositivo há 30 anos e com carga viral indetectável há 27/28 anos ao menos.


Raras foram as vezes em que usei minha condição soropositiva pra ajudar alguém e esclarecer a outros pela ignorância e o preconceito que gera ser um portador do vírus. Mas a maioria das vezes me fechei, tive vergonha até por colegas de meu círculo profissional sendo canalhas ao usarem sua situação para arrancar a pena e pedir ajuda financeira aos semelhantes quando o governo dá tudo. Me deu vergonha e receio de ser comparado a estas pessoas. Situações onde a fala era pejorativa, racista e preconceituosa também me fizeram me fechar mais ainda, ouvir alguns familiares com sua fala nojenta sobre o "câncer gay" e da ojeriza aos gays, coisas assim...

Me fechei mesmo!
Foi difícil digerir a minha situação há 30 anos. Passei este tempo todo lidando com as 3 palavras existentes até hoje para aquele que adquire o HIV: Aceitação, Estigmas e Preconceito.

Nem trago aqui os duros momentos de saúde abalada e tentativa de equilíbrio no uso do coquetel com seus efeitos colaterais fortíssimos em mim. Cheguei a para em hospital algumas vezes. 

Passou!

Declaro que não superei sozinho! Tive uma equipe profissional ao meu lado que sempre me deram as bases para seguir adiante. Destaco a psicóloga Mariângela Pinheiro e a assistente social Silmar as quais devo parte desta dura tarefa de se aceitar, assumir e apenas seguir adiante. Também foi fundamental o apoio de meu pai enquanto vivo. Com ele tive a maior surpresa porque sempre fomos muito diferentes um do outro, cheio de atritos mas que ele foi de imediato o mais empático comigo. Talvez por entender que essa era uma luta singular como a do câncer que ele tentou e não conseguiu. Minha mãe se foi em 2020 ainda sem aceitar e carregando consigo a vergonha por eu estar soropositivo. Ela aceitava bem minha sexualidade mas não superou o HIV. Meus irmãos demoraram muito a aceitarem; o que pra mim foi natural naquela época. Mas não tive tempo pra penar neles... eu era o centro dessa situação. O HIV balançou minha vida no que diz respeito aos valores da vida que recebi em minha educação, das falas de muitas filosofias ditas religiosas ou apenas científicas jogando uma culpa enorme em mim, no famoso anticristo e ainda me julgando e de tantas pessoas que sequer sabiam o que falavam. O erro do outro e seus pesares sempre foi mais fácil pra enxergar e analisar. Destas pessoas nunca ouvi dizerem que erraram, que se redimiram e aprenderam a lição.

Não tinha como apenas entender suas falas naquela época quando era eu quem estava sem o chão e no olho do furacão.

É sempre fácil falar do outro, da outra família que tem, do amigo do trabalho que é e etc. Mas quando o elemento em si está mais perto de você tudo muda. Muda a fala, mudam as atitudes, o interesse e mesmo sem perceberem seus atos passam com um pouco de preconceito emocional. Hoje estou amaciado, superei isso e estas pessoas e sigo a jornada normalmente. Confesso que mudei demais minha forma de pensar e agir diante da vida e vi muitos (pré)conceitos irem terra abaixo porque senti, e sinto até hoje, na pele tudo aquilo que é apenas teoria pra essa gente. Fiquei muito mais sensível e seletivo do que era. Empatia é uma forma de tentar sentir, entender e respeitar o outro. 

Nesses anos descobri o quê realmente é a Compaixão, o Acolhimento e a Resiliência associados aos atos que geram a Gratidão. são estados da alma que sequer precisam estar ligadas a qualquer religião, filosofia ou ciência por pertencerem a esfera humana. Todos sentem!!! Muitas vezes não faz nenhuma razão racionalizar a emoção. Embora ambas andem juntas estou vendo que ambas são complementares e devem se equilibrar. Quantas vezes ouvi falar de falhas emocionais ou racionais!!! São apenas algumas qualidades que estão em excesso ou carência. Já não as vejo como os famosos defeitos humanos.

Pedradas sempre se leva e cabe a cada um decidir o quê fazer com elas. Eu fiz um enorme castelo por muito tempo, mas foi Angelina como uma única e pequenina pedra que desmoronou meu castelo! Ela me mostrou que estas pedras servem para fazer uma ponte e não um castelo!!!

Quebrei meu muro de 30 anos!

Estou construindo uma nova ponte usando todas estas pedras para seguir na única direção possível pra mim. Essa é uma estrada que decidi não ter uma segunda opção. Seguirei por ela nessa vida e em tantas quantas forem pra apenas ser feliz.

Minha estrada pode inúmeros caminhos para serem escolhidos mas seu final só tem uma opção e jamais abrirei mão deste fim.



Ser Feliz ou ser Correto?

 Várias vezes me perguntam isso e sempre respondo:

-Depende do conceito que se entende por Felicidade e ser Correto.

E tentam me forçar a uma escolha e respondo:

- Ser feliz sendo correto segundo os princípios que levo como filosofia, ou seja, segundo minha visão do que considero correto. 

Quando se leva a máxima de polimento de si mesmo tomando como referência a conduta e o caráter, pra mim, quando se escolhe "ser feliz" conhecendo aquilo que julgo "ser errado" e comete a segunda pra favorecer a primeira já não será errar com ignorância e sim com consciência e a partir daí realmente existe a escolha. 

Pra mim, errar consciente pra ser feliz é o maior ato de se mostrar inflexível e incapaz de se auto transformar ou de auto polimento. Se generalizar essa escolha dá até pra dizer que o mal feitor é feliz por escolha porque neste caso está prevalecendo sua forma de ser feliz em detrimento de outros. 

Polimento de si mesmo tem um peso profundo nas escolhas quase diárias que se faz, se as mesmas maculam o outro intencionalmente para ter sua felicidade. Pra mim isso é maldade. Pra mim não tem menos ou mais mal. A partir do momento em que se comete um ato sabendo que irá prejudicar ou tirar algo do outro pra fazer valer sua felicidade é ruim! eu não faço isso.

Não nego que as cometi algumas vezes por desconhecer, literalmente, o malefício que vinha causando a terceiros pra me satisfazer naquilo que achei "ser correto" pra ser Feliz. Mas como sempre tive processo resiliência, ao descobrir o quanto estava causando dor no outro eu mudei minha forma de pensar e de agir, tentei consertar os erros que cometi ou, ao menos, amenizar os danos causados e passei a nunca mais repetir estes atos e procurei outros caminhos para atingir meus objetivos.

Por isso que digo que dá pra ser Feliz com responsabilidade e sem macular o próximo ou a um coletivo.

Sim, é difícil mas não impossível.  Abrir mão de alguns conceitos que te segrega do respeito alheio é um ato de crescimento. Não precisa ferir o(s) outros pra se sentir feliz. E se pode repelir afastando-se daqueles que tentam te ferir pra se sentirem felizes. É triste ver pessoas de meu círculo que praticam conscientemente sua felicidade desta forma. A cada vez que os vejo fazendo isso vou me afastando e evitando maiores contatos até que, se necessário, corto de vez do meu círculo.

A máxima da vida sempre foi a Escolha independente das consequências. As consequências são respostas diretas a estas escolhas que, se assertivas, só terá glórias sem dor. O oposto acontece quando se faz uma escolha ruim e, mesmo assim, ainda dá pra mudar o final refazendo o caminho de forma melhor.

Então dá sim pra ser Feliz e Correto ao mesmo tempo, mas sem tirar do próximo para ser feliz. Eu penso e ajo assim.