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segunda-feira, 24 de junho de 2013

ZAMBRA, uma dança entre o Flamenco e a Cultura Gitana Andaluza

Entre tantas danças na Espanha há uma esquecida e mistificada quanto às suas origens em meios artísticos dos quais ele poderia ser considerada "não pertencente" exclusivamente.

Diante da lacuna deixada pelos artistas por conta da antiguidade e agrafia de sua origem com os ciganos, vale ressaltar que a ZAMBRA faz parte do folclore do Cigano Andaluz preferencialmente os de Granada e que trazem uma herança mourisca.

Dentro dos rituais ciganos, existe os de casamento onde algumas cantorias e danças são ligadas ao Flamenco por serem estes ciganos também parte do Flamenco como um todo. Nas Bodas de Casamento, existe o ritual do lenço que é feito antes do casório como confirmação da virgindade da noiva, que é relevante para os ciganos. Neste ritual se canta por ALBOREÁ que é feito ao alvorecer, "em la alborada" ou "em la alboreá" ou ainda " em la albolea" na fala deles.

Após esta cantoria, vem LA CACHUCHA e LA MOSCA, partes integrantes do ritual dos ciganos que envolve "el perdón del novio" por roubar a cigana e a festa.
Daí segue a ZAMBRA que é como se fosse uma comunhão, uma grande festa de musicalidade árabe e muito aparentado com os Tangos Flamencos pelo compasso e pelas melodias muito próximas. Daí se tiram inclusive letras conhecidas do repertório como "el Yali" ou Tangos de Bodas e ainda mais, muito aparentado com os Tangos de Granada. Não se sabe dizer se um deriva do outro. Fica a lacuna...



A maior confusão fica por conta do que é a dança e de onde vem. Isto cai na história da Andalucia, sul da Espanha e tem relação direta com os 700 anos de conquista moura na Peninsula Ibérica. Após expulsão dos mouros pelos reis católicos Isabel e Felipe, ali ficaram apenas os que se sedentarizaram entre ciganos, judeus e norte africanos do Marrocos e países próximos.... dali vieram alguns ciganos.

Alguns registros ainda retratam como uma "dança proibida" por conta da tamanha sensualidade empregada pelas dançarinas... e trazida novamente ao mercado com os propósitos comerciais pelos próprios ciganos daquele lugar. O que não é explicado é que o "proibido" não diz respeito somente a dança, mas sim a toda forma artística que não falasse de Cristo haja vista que a península Ibérica acabara de expulsar tudo que não fosse católico e que não falasse a língua natal. Óbvio que as classes minoritárias aonde se inclui o cigano e outras etnias que ali resolveram ficar, eram perseguidos. E as letras falam de amores entre ciganos e não ciganos, de paixões desenvolvidas em Granada, de promessas de amor e temas do gênero que podem até envolver menções a religiosidade do cigano granadino relacionada ao amor por alguma mulher cigana e temas da região de Granada,



O termo vem do árabe e pode significar "flauta" ou mesmo o "local de festas", algazarra e ruídos... como fazem os ciganos. A apropriação do termo foi muito usado para designar o local dos ciganos em Granada, e que ainda hoje se encontram nas cavernas ou "cuevas" de Sacromonte; principalmente a "Zambra de Maria la Canastera". A dança foi criada pelos ciganos desta região. Ela, como dança, em nada se relaciona com as formas orientais árabes, fusionadas ou mesmo tem nenhuma origem ligada as tais danças palacianas andaluzas. Mas com inspirações de pouquíssimos movimentos ligados à dança do ventre que se vê no flamenco. Foi uma dança dos ciganos de Granada, muito recusada no meio artístico flamenco talvez por sua total origem cigana local, mas que retorna a cena totalmente atualizada ao século em que vivemos por renomados artistas da atualidade espanhola.



A música tem características próprias e algumas versões... mas nada que se compare ao termo mal empregado "Flamenco Árabe". E foi mais popularizada nas vozes dos grandes Manolo Caracol e a famosa Lola Flores "la faraona" e a própria Carmen Amaya, uma cigana bailaora e cantaora nascida na Cataluña. Vale mencionar que a Zambra como dança só aparece em registros após a expulsão dos mouros e no meio de ciganos granadinos.

 

Das fontes pesquisadas, o que mais me chama a atenção é que nas fontes de origem árabe nenhuma menciona zambra como "dança originada" por eles e sim pelos ciganos de Granada, sul da Espanha.

Resumidamente a Zambra em nada tem a ver com fusões arábico andaluza ou mesmo é somente uma forma exclusiva dos dias atuais dos ciganos daquela região como vejo ensinarem país afora.

Basta olhar, inclusive, o site da Wikipedia...


Já existe, inclusive, dois livros importantes sobre a Zambra. Um deles está sob autoria do cantaor gitano e granadino Curro Albaicín que pesquisou entre os ciganos mais antigos de sua terra natal, no bairro de Sacromonte em Granada, as mais remotas histórias da zambra... tanto como movimento musical como dança e reduto de ciganos daquela região. Com o título "Zambras de Granada y flamencos del Sacromonte", 2011. 

 

E o outro da Doutora em Antropologia Cristina Cruces Roldán que tem um capítulo em seu livro "El flamenco y la música andalusi - Argumentos para un encuentro", 2003 onde se fala da zambra.
El flamenco y la música andalusi - Argumentos para un encuentro

Fica aqui uma pequena menção sobre o estudo da Zambra. Dou Workshop em todo o Brasil com Apostila, Certificado e seleção Musical característico de Zambra. Entrem em contato...


2 comentários:

  1. Aprovadíssimo o workshop de Zambra ministrado por Ricardo Samel. Aqui em Ribeirão Preto, realizado no dia 09 de novembro desse ano, pudemos aprender muito por sua didática é excelente e esclarecer diversas polêmicas sobre esse ritmo maravilhoso e lindo!!!!

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  2. Oi Samel, gostei muito do contato com a zambra que você nos proporcionou hoje no work. Obrigada e parabéns!

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