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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SENTIR...



Pensando e vendo nestes quase 30 anos que me dedico estudando e ensinado Flamenco, fico imaginando como tem gente que faz "qualquer coisa" flamenca e nem sequer sabe o que fez. Todos os cantes tem sua essência e diz o que é pra se sentir... ou sentiu. São eles que determinam a expressão que usaremos ao bailar. E muitas vezes sugerem cores e figurinos...

De que adianta ultrapassar os limites de velocidade no taconeo (mesmo no compás), de ter tantos giros, tanto contorcionismo ou dançar como antigamente se não sabe o que se está cantando e, consequentemente, sentindo? Será que a emoção que gera uma Soleá é única? Então não seria o caso de todas as letras serem iguais? Claro que não! Ninguém tem solidão igual ou saudades de amor igual; mesmo quando a letra é a mesma...


Por que há anos LA CHINA diz..." tiene que escuchar el cante, tiene que bailar al oído, al cante!"... Pode ser até que não se saiba muitos movimentos, mas precisa sentir também a profundidade daquilo que é cantado. Não é só para perceber o compás e dar o cierre ou o remate.

"No me pasa nada, nada, nada!"... SARA LA MORA.

"Trabalhar técnicas de dança para servir melhor a EMOÇÃO"... SONIA CASTRIOTTO.

"No importa lo que hagan y si cómo lo hagan."... ADRIAN GÁLIA.

Isso me faz pensar em gente como o sr. Alberto Turina (in memorian) que nem sempre conseguia realizar suas coreografias como pensava. Era exigente, mas adaptava e respeitava ao seu corpo de baile.

Isso me faz lembrar a gente brasileira como Fabinho Rodriguez e Stefano Domit com tanta energia e personalidade, a Thereza Canário, a Ana Campoy, Robinson Gambarra e a tantos outros que conseguem colocar tudo isso junto quando dançam. Isso não quer dizer que gosto de seus estilos, mas preciso reconhecer o mérito deste trabalho. Ana Mazargão pra mim é a nossa María Pagés.

Ao cante de Helena de los Andes, doida e hiper ativa, mas totalmente Flamenca; a Ana Bayer que se solta ao cantar e a Diego Zarcón, bailaor que caiu dentro do cante... A tantos outros que aprenderam a lidar com as emoções Flamencas. "Cuando canto me sube en la boca el gusto de sangre!"... vocês fazem isso!

Isso me faz lembrar da magia que faz a guitarra da Mara Lúcia Ribeiro para qualquer dançarino e as notas mágicas que desperta o toque de Allan Harbas... Que falar do guitarrista brasileiro mais espanhol que temos, Fernando de La Rua?

O baile de Inma Ortega é regado de tudo um pouco... técnicas afinadas, filigranas coreográficas, roupas altamente atuais, modernas mas com um olhar no passado, e taconeo "limpio, musical y bonito". Antonio Canales é outro que respira e sua Flamenco. Dorme, sonha, tem pesadelo, acorda e vive flamenqueando! São tantos, mas vocês me passam agora na cabeça.

Então, gente flamenca, me desculpem, mas a emoção é a mola que impulsiona o Flamenco. As técnicas servem apenas para facilitar estas explosões internas, estas "afecções humanas", como diria uma amiga filósofa que admiro e respeito demais!!!! MARTA HERNANDEZ.


Lamento aqueles que acham que dão aula de Flamenco. É mais do que isso...
Lamento aqueles que acham que dançaram Flamenco. É mais do que isso...
Lamento aqueles que pensam que tocam. É mais do que isso...
Lamento aqueles que acham que sabem construir figurinos Flamencos. É mais do que isso..
Tenho que lamentar também quem acha que canta? é mais do que isso!

Não se deixem levar pelos excessos ou pela falta de conhecimentos seja em qual setor flamenco for. Muito menos achar que já tem o suficiente para ser professor ou "dono" do Flamenco. Ter registro profissional é uma coisa, dançar é outra, ensinar é outra e viver com a filosofia do Flamenco é outra...

Que eu saiba, a arte não se compra. Só as de loja, não é mesmo? Se nasce com ela e levamos quando nos vamos. O que fica é o legado deixado a poucos...


Como disse Camarón, só tem uma escola... TRANSMITIR.



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