Powered By Blogger

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Cuspindo abelhas e chovendo vespas... mercado no ensino da dança

Hoje quero mesmo falar de forma a alertar as Escolas e Academias de dança onde a cadeira chefe é composta por diretores com formação erudita em dança assim como a dança principal e de maior valor.



Há anos trabalho com elas, melhor dizendo, trabalhei em muitas delas e algumas muito famosas aqui na capital do Rio de Janeiro. Renomadas em sua dança, sempre deram espaço às outras de matrizes étnicas. Na visão delas, até hoje não passamos de uma dança a caráter. Em outras pouquíssimas somos até reconhecidos como mais uma linguagem dentre tantas outras, porém sempre diminuidos, até quando há alguma divulgação externa de nosso trabalho. E eu ainda pegaria mais pesado... sem o devido mérito. 

Nestes mais de 30 anos, sempre caímos de paraquedas em seus diversos temas dos quais quase sempre sequer parece importar a verdadeira visão e valor que cada uma destas danças, as étnicas, têm. 

É notório que nos últimos 15/20 anos, muitas destas danças sumiram dos principais eventos internacionais por conta deste desrespeito criando seus respectivos campos de trabalho.

O desrespeito aumenta nos concursos quando todas as danças étnicas concorrem entre si, ou seja, categorias de estilos diferentes. Participei de alguns onde meus concorrentes eram da dança cigana, afro, folclore brasileiro e até mesmo dança do ventre.

É extremamente decepcionante e desestimulador estar em alguma destas academias com regência acadêmica e passar anos ali vendo que não se cresce, não se divulga e não dão um espaço mínimo que seja para que as danças étnicas apresentem aquilo que possuem de maior valor: a sua essência,  mesmo que folclórica,  e que está atualizada ou modernizada em seus países de origem.

Mas não posso deixar de mencionar o que vi no XXV Festival do Triângulo, MG, entre 9 e 15 de novembro de 2016. Primeira vez que deram espaço para uma companhia de flamenco para fazerem a abertura. E a grata satisfação de que foi a Soniquete, de Mariana Abreu de Campinas, que mostrou nosso potencial flamenco com nível internacional. E não dá pra deixar de mencionar que a produção simplesmente usou um intervalo para divulgar as necessidades do evento enquanto literalmente TIRARAM o linóleo durante a mostra para o número de flamenco do grupo da Veruska Kelly! Me encantei com o ato! Enquanto que vi e escutei em vários eventos país afora e apresentações de academias onde as danças ditas acadêmicas dominam dizem "não dá". Inteligência e respeito! Isso me alimenta esperanças! Realmente me fascinou!




Estou dando murro em ponta de faca?

Fica mais decepcionante quando se trata de locais ditos educadores! Como se pode ensinar os diversos estilos de um segmento se o espaço ofertado é sempre uma estilização de nossas danças? Já fiz inúmeros musicais infantis baseados nos contos da Disney, outros temas como Circo, Brasil 2000 e histórias onde danças como o Flamenco e as coirmãs jamais serviriam com sua natural essência. Apenas emprestam sua plasticidade para preencherem um tema dirigido principalmente para as danças acadêmicas como o ballet e o jazz.

Quantas vezes vesti a camisa durante alguns anos para ver se receberia o reconhecimento, não o financeiro? E quando ia cobrar para vestir a minha camisa, fui desprezado e estimulado indiretamente a procurar outro espaço porque ali os alunos estavam sumindo ou porque não havia procura para minha dança. Claro, só apresentei estilismos sem nunca sequer ter sido divulgado externamente! Poxa, nem mesmo uma propaganda avisando que estamos ali, ofertando uma opção nova...em cinco anos, eu que faço a propaganda? Pra ganhar a mesma coisa? Nem sequer, se eu conseguisse alunos, iria ganhar um prêmio por isso...parece obrigação nossa estar ali e sem que o entorno saiba da nossa existência ali (salvo os próprios alunos existentes), tenhamos que, quase por magia, atrair alunos novos. E ainda ouvir nas reuniões sobre o tema de fim de ano que nós, agora indiferente dos estilos, é que fazemos a cabeça do aluno para participarem e etc e tal. Ou seja, a gente veste sua camisa. Por qual razão nenhuma de vocês veste a nossa? Fica no ar...

Em raríssimas exceções estive dentro de um tema onde pude levar o flamenco com sua verdadeira cara. Imagino as coirmãs como devem ter sofrido com isso nestes locais!

Poucas foram as que uma ajuda de custo deram por reconhecer nosso profissionalismo, pois criamos a coreografia, ensaiamos horas extras, às vezes dançamos de graça para encher seus bolsos! Mais uma vez vestimos a sua camisa, não é mesmo? E nunca cobramos, pois esperávamos o reconhecimento de nossos esforços.

Como fui sócio uma vez, sei o que digo, pois sobra dinheiro sim!!!

Com esta infeliz e persistente distorção de nossas artes, muitas lutaram e abriram seus caminhos distantes das danças acadêmicas. Surgem escolas e academias onde sequer o ballet e o jazz aparecem no quadro de ofertas destes locais. Quando aparecem, estão no mesmo patamar que nos deram tradicionamente em seus campos, tapando buracos. Exatamente como fazem conosco.

Surgem vários eventos que já alcançam estatus internacional dentro de seus estilos. E fica o detalhe do exemplo pra quem acha que não valorizamos o que vivemos. Nossos moldes são espelhados nos grandes e tradicionais eventos criados pelas danças acadêmicas! De onde nós participávamos ativamente.

Será mesmo que não sabemos valorizar suas danças?

Será mesmo que recebemos o devido respeito que merecemos?

Ou apenas somos diminuidos por não termos a mesma escola que vocês e completamos seus orçamentos?

Os concursos poderiam ter em suas ofertas de inscrição e bancas, a devida divisão por estilos como fazem com as suas e nos ofertar a concorrência justa com gente igual a nós. Cada um no seu segmento.

Nestes mais de 30 anos eu nunca vi, repito em caixa alta, NUNCA VI um ballet clássico competir com uma dança moderna, um ballet contemporâneo competir com um jazz ou mesmo um ballet clássico de repertório competir com um neoclássico. Sempre concorreram entre si. Nunca com os outros estilos.

Sim, é este o valor e respeito que nos dão, infelizmente, até hoje. Posso até cutucar na ferida quando falo do Flamenco que hoje já é reconhecido como mais uma linguagem de dança no exterior e ainda recebeu o título de Patrimônio Imaterial Cultural da Humanidade pela Unesco em outubro de 2010. Mesmo assim, somos apenas uma dança espanhola aqui no Brasil por estas tradicionais academias e escolas de dança com matriz dita erudita. Ainda encontro muitas que nos querem de "vermelho e preto", tocando castanholas, sapateando e usando leques para as moças e os rapazes travestidos de toureiros ou de pseudo-espanhóis, tipo piratas.

Por esta razão, muitos criaram seus caminhos independentes das tradicionais escolas de ballet, as quais me rendo e apoio por conseguir se desligarem deste comércio pretencioso.

Será mesmo que o único valor que temos é o de preencher as horas vagas de suas grades e de contabilizar mais uma taxa paga para sua apresentação de fim de ano dentro do seu tema dirigido?

Sugiro repensarem o que vocês dizem ser... um estabelecimento de "ensino de danças". No plural mesmo! Seja ele rotatório como uma Academia de Dança ou mesmo na fachada do título Escola de Dança. Ou mais discreto quando se chamam Estudio de Danças. E conseguem piorar quando se levam como uma Cia. de Dança em que o estatus de uma companhia se espelha na situação perene e regular de um grupo de profissionais que trabalham com o dito conceito da palavra Companhia dentro de uma verdadeira ótica de Dança Profissional, seja ela qual for, e usam os alunos para iluminar seus letreiros.

Mais uma vez fica minha dolorosa crítica. E talvez pela falta de coragem de dialogar que meus colegas destes diversos estilos de dança que temos, preferiram apenas sair no silêncio e montarem seus estudios, suas salas, suas escolas e suas academias para desenvolverem aquilo que descobrimos quando fomos estudar nossas danças. Não somos apenas uma dança a caráter e muito menos somos apenas danças estilizadas!

Poderia aprofundar mais ainda se adentrasse nos programas televisivos que nos entretêm com os belos concursos, cheios de belas figuras e em quase sua totalidade estilizando nosso trabalho. Isso não é ruim, mas recebemos muita gente querendo aprender a dançar daquele jeito, com aquela roupa e sair bailando profissionalmente num tempo impossível! Poderiam ao menos, em cada estilo que apresentam nos concursos televisivos, ter alguém daquele estilo para comentar e dar a visão técnica de quem vive dela, mesmo que ainda seja por pura visão artística. Que não me tomem como carrasco desta fala! Mas quem já viu uma dançarina indiana julgando um tango argentino? A pensar...

Talvez eu seja tolo em permanecer acreditando que um dia estas danças de cunho acadêmico nos reconheçam como parceiros e não como estilos menores que o seu ou concorrentes no mercado de trabalho. Há espaço para todos!

Vai me doer a publicação desta matéria, mas não deixarei passar em branco como faz a maioria hoje. Engasguei anos com isso tentando conversar, dialogar e tentando um espaço entre eles que ofertam sim, mas com o respeito que merecemos! Muitas vezes fui posto de molho e durante anos não fui convidado ou fui ignorado pelos eventos e pelas bancas de concursos como jurado mesmo, pois me recusei a participar como concorrente diante da banca nada especializada em meu setor.

Ainda fui algumas vezes questionado, por bancas nada especializadas, sobre o que achei do trabalho de flamenco antes deles votarem. Apenas respondi ter minha visão, mas a responsabilidade do voto e do contrato era deles e não minha. Apenas fui convidado a assistir e não a opinar conforme o contrato.

Isso porque fui conversar com a direção dos eventos para sugerir gente especializada em cada setor e concorrência dentro de cada estilo! E escutar a insanidade de que os profissionais eruditos tinham uma visão generalizada e podiam perfeitamente fazer os julgamentos. Ou pior, só tinham dinheiro para eles! Má divisão dos recursos é o que fazem, mesmo que pequenos.

Muitos dizem que sou recalcado porque não tenho minha escola e meu festival. Já tive uma escola em sociedade e ali vi claramente isso que declaro abertamente agora. Eventualmente, participo sim de eventos estritamente flamencos porque ali seremos respeitados como deveríamos ser em outros eventos fora de nosso segmento. 

Eles me deram estes adjetivos os quais não os reconheço em meu caminho. Apenas escolhi ser instrutor, coreógrafo, dançarino e figurinista de flamenco e danças afins.

Será mesmo que sou recalcado e invejoso? Sou autônomo e tenho viajado como um nômade  por estes longos anos em diversos estabelecimentos de ensino da dança. Sei bem como funciona o lado comercial de um estabelecimento e quais são as exigências que qualquer dança tem para ser ensinada.

Com certeza não agredi meu amado Flamenco. E dou total apoio aos meus coirmãos étnicos que enfrentaram barreiras e hoje tem suas escolas de suas danças. Eu que escolhi não ter a minha...

Lancei minha sentença no mercado do ensino da dança.


Salvo raríssimas exceções, o sucesso das danças em seu espaço de aprendizado é fadado e proporcional ao valor e respeito que seus diretores dão à elas, tanto na divulgação externa e montagem de turmas quanto aos profissionais que escolhem para ministraem aulas dentro de seu espaço. E digo mais... as salas de aulas só ficam cheias de acordo com a Lei da Oferta e da Procura, necessariamente nesta proporção e ordem. Não há procura se a oferta não é externalizada ou inexistente. Este é um, senão o maior, erro cometido pela maioria dos estabelecimentos de ensino de dança que contam apenas com a procura interna. Ainda mais quando os descontos sempre recaem nas segundas modalidades as quais somos qualificados e repartidos, quando fazem, com os profissionais sem comunicá-los no ato do acordo.  Não ganhamos a diferença nem das mensalidades pagas com multas por atraso! Já é complicado lidar com alguns colegas com DRT que infelizmente nunca deveriam ter este registro por terem currículos duvidosos. E só lastimo quando a sessão de registro passa por algumas fraudes praticamente indetectáveis.

Algumas vezes recebi denúncias porque trabalhei dentro do sindicato, mas os denunciantes nunca me forneceram documentos comprovatórios das fraudes ou mesmo quiseram dar a cara a tapas, nem mesmo seu testemunho. E eu que tinha que dar? Detalhe, de gente conhecida no mercado!

Quase todos os profissionais praticam a política da boa ética. Dão um sorriso, lastimam e seguem seus caminhos se afastando.

Depois desta matéria, quero ver quem tem a coragem de me chamar para trabalhar ou a qualquer colega das danças coirmãs! Muitos diretores se doerão na tamanha proporção de desrespeito que sentimos durante longos anos.

Aliás, esta matéria foi escrita em fins de 2016 e publicá-la naquela época só me diriam que sou pessimista ou inconformado porque o mercado "é assim", do jeito que eles acham que somos.

Guardei para agora, início de 2017 para pensarem nas modalidades de suas academias, estúdios e escola de danças. Publicado hoje, dia 12 de Janeiro de 2017.

Aqueles que não se enquadram, não tem o que reclamar aqui... ou apoiam ou ficam em silêncio. Será?

Cuspi abelhas...
Choverão vespas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mantenha contatos comigo deixando aqui seus comentários e seus contatos.