Escrito em 21 NOV 2015
Palavras de Sonia Maria de Lima Samel
A minha mãe teve 20 filhos onde 15 nasceram em casa e os outros 5 que nasceram no hospital, morreram. O último deles, minha mãe estava no sétimo mês quando levou um tombo e foi parar no hospital por conta das dores. Foi tratada apenas com compressas quentes durante uma semana, pois os médicos diziam que ela não estava grávida. Preferiu ir pra casa e chamou a parteira que retirou a criança aos pedaços.
Sou nordestina e passei muita fome e cheguei a comer cascas de frutas do lixo.
Aos 8 anos fui trabalhar em casa de família. As patroas diziam ao meu pai que me colocariam numa escola. Era o que mais queria, mas não acontecia e então eu fugia.
Vi minha mãe chorar muitas vezes porque não tinha nada para dar de comer aos filhos. Quando chovia, brotava na terra uma planta chamada "bredo" e outra "berduega" que eram comidas de gado. Mas minha mãe catava e dava para a gente comer.
Por quê falo isso? Por causa destes políticos que vivem as nossas custas. Eles não sabem o que é isso. Em vez de roubarem nosso dinheiro, por quê não reduzem seus salários? Tem vagabundos que entram na política porque é fácil roubar e enganar o povo. Darei um exemplo: estive no hospital há alguns anos com um de meus filhos por conta de fortes dores que ele sentia e precisou ficar em observação. O médico que o internou foi embora. Outra senhora estava também lá com seu filho e pediu que o médico dele desse uma olhada no meu filho. Prometeu fazê -lo e só apareceu no outro dia. Este médico era candidato a deputado e cobrei dele o que havia me prometido. Me respondeu que candidato bom é aquele que promete e não cumpre. Então respondi "foi muito bom o senhor me dizer isso". Ao sair do hospital fiz campanha contra ele nas lojas. Contei como fui tratada e de sua resposta. Não ganhou nenhuma eleição. Vagabundo não é quem não trabalha, mas é aquele que leva uma vida boa sem querer saber se alguém precisa dele ou não. Este sujeito safado é médico!
DESABAFO parte II
Já se ouviu muito por aí que "aqui se faz e aqui se paga". Sempre ouvi falar que somos todos iguais, mas ninguém nunca leva a sério. Mas tenho visto que não importa o que pensem porque se paga mesmo. Custe o tempo que custar, sempre se paga. Só debaixo da terra somos todos iguais. Mesmo tendo todo o dinheiro do mundo, para onde se vai nada poderá comprar. Seu dinheiro fica aqui entre os vivos!
Na última casa que trabalhei a patroa falou que viria uma pessoa jantar e que eu não deveria dirigir a palavra a ele para nada. Ele não permitiria que uma pessoa "inferior" se dirigisse a ele. Eu trabalhava nessa casa com meu filho que nem sabia falar. O sujeito perguntava a meu filho qual era o nome dele... Por várias vezes! Então respondi. O cara me fulminou com seu olhar.
Já tinha minha casa. Depois de 3 anos trabalhando, liguei para a patroa e disse sobre minha conquista. Fui elogiada, mas recebi um comentário terrível dela. "Você acha que um universitário vai querer assumir que é pai de uma criança filho de doméstica?"
Sobre o tal sujeito que não falava com pobres, soube que morreu no hospital público exatamente onde fui operada. Por isso digo que "em baixo da terra somos todos iguais".
Caráter e respeito são formados em casa. Na escola se aprende cultura, ler e escrever. E isso aprendi sozinha com vontade. Perto de minha casa tinha uma escola. Todos os dias eu subia numa pedra que tinha no muro e pensava "um dia vou estudar nessa escola". Só fiquei 2 meses, mas foi o suficiente pra desenvolver minha vontade.
Sempre ouvi falar que o trabalho dignifica o homem. Conheço gente que não trabalha porque já nasceram ricos e muitos nem herdeiros tem. Onde fica a dignidade destes homens? Por quê não trabalham pra tirar esse país do fundo do poço?
Hoje tenho 75 anos e fui vítima de 2 cânceres que consegui vencer. Tenho sequelas advindas deles, mas minha vontade de viver e vencer sempre foram minha meta. Não é porque sou humilde e pobre que me entregarei e serei derrotada pelas coisas ruins que a vida e estas pessoas ruins fazem com gente como eu.
Sou honesta e digna sim! Orgulhosa por ser batalhadora e ter dado caráter, honra e dignidade aos meus filhos da maneira que pude e como nunca havia recebido. Apenas aprendi a ser assim seguindo os passos de minha mãe, Marcolina de Lima e Silva que, sem nada na vida, deu seu melhor para todos os filhos. Ela não se prostituiu, não deu e nem jogou nenhum filho no lixo e sequer tive irmãos bandidos, apesar da vida sofrida de nós nordestinos.
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