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domingo, 4 de novembro de 2018

Onde está o flamenco?


O título deste artigo visa trazer uma reflexão individual de sua realidade e sua consciência no aprendizado, desenvolvimento, ensino e definição do flamenco. Darei enfoque para a dança que é o caminho que persigo, insisto e estou.

Demorei a entender que estudar dança, seja ela qual for, sempre será um trabalho árduo, com muita dedicação, esforço pessoal onde sacrifícios são feitos e uma constante renovação de muitos colegas e parceiros, mas com raros amigos verdadeiros  e muita solidão. Se cresce sozinho e taciturno. Ninguém te diz quando não está bem ou errado, alguns te indicam ou sugerem estudar mais e pouquíssimos  te dirão quando está totalmente distante da realidade e querem te ajudar a crescer e melhorar. Não dá pra evitar o processo natural da vaidade e egolatria nestas descobertas e que se acalmam quando descobrimos o equilíbrio .

Frequentei muitos cursos diferentes achando que isso me faria melhor, mais fluente na dança e mais "visto". Mas observei que, em particular, fazer muitas aulas diversificadas nos estilos e com diversificados profissionais por curtos períodos não me trouxe desenvolvimento, mas apenas lembrança de trechos de aulas ou coreografias.

Técnica não é diversidade e quantidade de professores, mas a repetição de poucas linhas a seguir e repetir até dominar.

Analogias à parte, a dança é um universo extenso e delimitado por um conteúdo  dentro desta extensão.  Explorar-se ao nível de expressar melhor o que quer dizer a música é o objetivo. Quanto maior minha consciência corporal na dança,  no caso em questão é o flamenco, mais fácil e rápido o resultado será.

Levei um tempo pra entender que uma coreografia não é uma colagem de movimentos que cabem no compasso da música. Mas movimentos harmônicos entre si e simbióticos com a música quase que brotando sem muito pensar. Eu fazia o que hoje chamo de colcha de retalhos onde costurava passos de um artista com os de outros e remendava com algum trecho coreografado por outro. Fui um verdadeiro Victor Frankenstein por um tempo até descobrir que isso não é arte e muito menos flamenco. Melhor seria se tivesse assumido não saber montar uma coreografia e usar uma pronta delegando sua autoria ao seu tutor. No máximo alterar alguma coisa e mencionar a adaptação e imprimir minha alma nela.

Flamenco é individual, solitário por natureza e coletivo na quantidade. É uma arte de total mergulho em si mesmo e uma forma de perceber a vida. Expôr isso é o grito, a explosão e êxtase da emoção.  O "como" vai expor é que é o problema. E fica a pergunta: exponho pra ter alguma aprovação artística do público ou exponho pra fazer resistir o flamenco? Isso engloba tudo! Harmonicamente falando, é figurino, luz, som, cenário (nem sempre precisa de um se tiver uma boa iluminação), música ou músicos, eu, o elenco e o flamenco.

O flamenco é uma linguagem artistica em modo andaluz e que alcança qualquer etnia pelo encanto e sedução de sua força,  mas não se sujeita a existência quando sai por entre os dedos se suas emoções não são respeitadas a fundo. São mais de 30 anos em busca de uma explicação para estas transformações que ele causa nos artistas que realmente são picados pela mosquinha do flamenco. Não é uma moda na roupa ou numa dança modificada, tradicional, contemporânea ou fusionada ou mesmo na capacidade técnica dos músicos ou de quem canta. É uma assinatura que borbulha no sangue e extravasa pelos poros aquilo que a alma clama para não guardar numa somatização de sentimentos mais contidos ainda.

Menos é mais. Mas nem sempre o mais ou demais conseguirá se igualar a potência que tem o menos dentro desta esfera do flamenco. Então quais filtros se deve usar? Eu ainda não sei responder e talvez não consiga nunca.

Qual medida usar então? Eu uso o coração.  Quando vejo um trabalho, esqueço meus preconceitos e deixo a arte mexer comigo. Se der aquele arrepio na espinha, eu gostei. E isso não se relaciona com ser ou não moderno, atual, na moda do momento ou mesmo ter excelência técnica. Mas sim aquela identidade comum que esta arte causa quando os artistas encontram suas emoções e extravasam em seus dotes artísticos. Técnicas são para servir a emoção no flamenco.

Isso pra mim é Flamenco. Quem canta, toca ou dança precisa se libertar das barreiras para que vejamos e sintamos essa explosão, essa fulgaz emoção transbordar e nos fazer arrepiar a espinha de novo.

E pra você, onde está o flamenco? Na roupa, no tipo artístico ou na dança?
Onde?


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