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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Imaturidade ou Oportunismo no ensino das Danças?

 

Desde que eu estudo e ensino Dança Flamenca, ou seja, quase quarenta anos, me deparo com um quadro onde existem vários professores desqualificados. Mas seria por falta de conhecimentos, imaturidade ou oportunismos? Declaro que muitas vezes vejo um bom mas imaturo professor de dança que depende de seu bom senso e de mais preparos para ser o que o futuro lhe reserva quando sabe-se de sua imaturidade. Isso não quer dizer que não deva ensinar, mas ser sincero com seus aprendizes alertando-os de sua real capacidade naquele momento. Já será uma boa demonstração de seu caráter...

Nunca será difícil encontrar em todas as danças gente que acha que sabe ou que já pode ensinar. Me lembro quando iniciei imaturamente porém com um tutoriado de minha antiga professora que orientava e me dizia o conteúdo do que eu poderia e o alcance segundo meus conhecimentos. Por um bom tempo Sonia Castrioto me dizia o quanto deveria continuar meus estudos e agregar mais conhecimentos em prol da dança e mais ainda por conta de ensinar.

A maioria das danças de matriz étnica não possui um regime, uma normativa ou legislação para reconhecer profissionais salvo o dito "notório saber". E é aí que mora o perigo quando maus profissionais, os ditos oportunistas, se utilizam de sua vaidade para "formar" e dizer que aqueles indivíduos, muitas vezes inocentes do que fazem, podem dar aulas ou dançarem profissionalmente. Piora quando a instituição credora de "notórios saber" cobre estes profissionais por puro interesse financeiro sem se preocupar com a idoneidade de quem aprova e piorando o mercado destas e de outras danças.

Não dá pra dizer com 100% de certeza que estes professores imaturos estão totalmente errados. A maioria se observa até terem o talento e é notório visualizar seu potencial para o ensino. Isso ocorreu comigo! Queria que seus "tutores" levassem mais a sério o que fazem quando os liberam para ensinar ao léo... Alguns destes novos professores despertam para esta realidade quando se deparam com outros mais experientes e correm atrás do prejuízo. Os outros preferem nutrir-se deste despreparado conhecimento e seguir vaidosamente o caminho do ensino imaturo ou visualmente oportunista da situação.

Nem é dizer que temos a falta de professores qualificados, segundo o notório saber, para dar este suporte e "liberar" os novos professores quando um mínimo suficientemente responsável é reconhecido. O grande problema é ver grandes profissionais literalmente apoiarem estes professores por conta de uma visão oportunista quando se nutrem de seus "netos" da dança em seus eventos, festivais e qualquer mercado que aparentemente se apresentam como grandes divulgadores das danças. Sim, mas sem qualquer critério fora se alimentarem financeiramente das vaidades de quem se amostra ali. Existem eventos respeitados pelo seu conteúdo profissional em todos os sentidos onde cada um tem seu devido lugar com seu devido mérito sem desqualificar o nível de cada um por isso.

Em ciclo de pandemia nem é o fato de ter ou não mais alunos, mas é outro problema que independe da qualificação profissional. Depende da capacidade de adaptação ao aprendizado remoto e de aprender-mos, professores e alunos, a lidar com as intempéries deste processo. São os "delays" e uma enorme dificuldade de ensinar à distância sem poder corrigir de forma mais apropriada o aprendiz. Ganha-se e perde-se neste processo.

Existe outro fator para a perpetuação deste processo de imaturidade que é o "achismo" de outras pessoas de outros segmentos da dança que creem saberem aquilo que ensinam, afirmam categoricamente que é aquilo mesmo e se baseiam em outros maus professores como se uns apoiassem aos outros nessa leva de mentiras culturais.

Tirando o processo de um nível superior em dança mesmo que despreparado para todos os tipos de dança, só resta o crivo da desatualizada lei 6533 que abre brechas para que artistas bailarinos e dançarinos ministrem aulas em diversos estabelecimentos. Mudar leis é um processo totalmente letárgico em nosso país. Envolve interesses políticos de esquivos políticos e de falsos interesses culturais. Vemos isso a cada ciclo eleitoreiro. No processo político me esquivo de falar. Vemos os resultados ao longo de décadas de descaso com o ensino. Fica notável como a ignorância cultural é uma boa ferramenta para oportunistas de diversas categorias apoiados por esta carência legal.

Sempre me disseram que falo demais, que só apresento o lado negativo das situações e por isso, me veem como o "senhor de verdades absolutas", arrogante, metido e tantos outros adjetivos que nem necessito aqui mencionar. De fato, aponto falhas! Cansei de ouvir de colegas diversos falar mal de outros por conta dos inaptos trabalhos deles como professores, bailarinos ou coreógrafos. E não nego que já fui assim também! Mas o tempo ensina a quem quer aprender. 

Como faço hoje? Apenas observo e ensino a quem está em minha sala de aula, indico outros que ensinam como eu, ensino aos alunos a pensarem e serem melhores em suas escolhas. Desta forma acredito que o mercado pode melhorar, ainda que sendo uma formiga por vez, e colocar de escanteio os maus professores de dança. Vivemos em pleno momento onde temos melhores acessos a conhecimentos para melhor exercermos nossos papéis de professores de dança ou, como diz a lei 6533, quem não tem nível superior deve se apresentar como um "instrutor de dança"; fato até racionalmente aceitável haja vista que o "notório saber" não tem as qualificações de um nível superior e nem por isso nos coloca como menos valido no mercado. Conheço muitos instrutores de mais valor que muitos com diploma de formação, com mestrado  e etc!

É com essa premissa que aplico em meus caminhos que inventei uma classificação que só os mais experientes, independente de seus níveis de conhecimentos, entenderão. São 5 os tipos de dançarinos e bailarinos que temos no mercado. generalizarei o termo para facilitar a compreensão:

1) Bom Bailarino e Bom Professor

É aquele que atua bem nos palcos e também tem conhecimentos suficientes para ensinar nas salas de aulas

2) Bom Bailarino e Mau Professor

É aquele que apenas tem os atributos para atuar nas cenas faltando-lhe alguma experiência, conhecimentos e/ou vocação para ensinar

3) Mau Bailarino e Bom Professor

É aquele que, oposto ao item acima, sabe ensinar por ter os conhecimentos suficientes e, obviamente a vocação, mas não é bom bailarino nos palcos

4) Mau bailarino e Mau Professor

Sinceramente este nem deveria estar na dança! Alguém deveria indicar outros caminhos a seguir. Mas quem tem a coragem e sinceridade pra isso? Eu tenho, mas felizmente isso nunca me ocorreu até hoje nas minhas salas de aula.

5) Mau Oportunista

Este se encontra em todos os itens acima e poucos sabem reconhecê-lo. Deveria ganhar um Oscar como ator!

De fato lidaremos com a estética do caráter em qualquer circunstância em todo tipo de relação humana. Essa é uma das características do ser humano a qual devemos aprender a enxergar e melhorar nossas escolhas. Isso não quer dizer que os oportunistas acabarão, mas se usarmos do bom senso, da nossa capacidade de questionar e refletir poderemos errar menos ou melhor ainda, seque errar nas escolhas no processo do aprendizado. É uma busca constante!

Faça sua escolha e prepare-se para colher boas ou más consequências delas!

Simples ou não?

Boa sorte!



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