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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Arte... um fio tênue das emoções

No atual caos que vivemos onde os excessos reinam sem nenhum pudor, sem nenhum limite, com bastante furor e sem critérios a arte, de uma forma geral, também não escapa da diversidade de críticas.


Arte, em suas diversas formas de expressão, serve para retratar as sensações do mundo de quem a expõe através de obras solitárias ou coletivas. Aquilo que literalmente se expõe é porque quer que os outros vejam, gostem ou não, com conhecimentos técnicos ou não e de forma amadora ou profissional os estados da alma humana e suas perspectivas subjetivas daquilo que vive e está ali na sua frente.

O que há de errado nisso? Em meu ver, antes de dar testemunho daquilo que se expõe, vou em busca do sentido da obra, seja ela qual for, para imergir na visão do artista. Quando parece-me razoável fica fácil apreciar independente do gosto pessoal que eu possa ter e ficar ali, vendo até o fim.


Ainda penso e levo no fio da navalha o fato de que se o artista se expõe é porque quer mostrar o que pensa sobre o exposto e se dispõe, ainda que não declaradamente, a apreciações diversas de quem o assiste.

Tenho claro na minha mente quando fui ver o tão polêmico e conturbado Gerald Thomas com sua visão da ópera Tristão e Isolda em 2003. Queria saber por qual razão a grande maioria quase sempre queria linchá-lo. Dito e feito. Esta ópera é lindíssima e como todas as outras tem um fundo romântico, uma história com as três fases convencionais: início, meio e fim.

Onde está o crivo? Surtadamente os quadros eram representados divinamente na voz de seus intérpretes exatamente como dita a história, mas as cenas eram totalmente avessas àquilo relatado na história. A maioria com fundo de desequlibrio sobre o sexo de forma muito froidiana, estados da alma em conflito e inusitadas composições totalmente inapropriadas para qualquer história. Parece que este artista não suporta o fato de tantas coisas belas serem boas para a alma e foi destruindo e desconstruindo o trabalho alheio. Que criasse sua ópera então!  Resultado: a cada intervalo levas do público saíam do teatro com raiva, ódio ou às vezes com crises de risos. Eu saí no segundo intervalo ouvindo um colega de público se questionando por qual razão Gerald Thomas odiava a vida e por quê não fazia com ele mesmo o que fazia com as obras alheias...cortar-se à carne e sangrar até esvair toda sua vida. Embora tenha feito parte do mesmo gosto da grande maioria, este comentário me causou um grande susto e foi a partir daí que comecei a olhar aquilo que exponho com mais carinho, com mais exigência e com mais consciência.

O pior disso tudo é o peso e a relevância que isso teve no processo do ensino nas salas de aula que tenho estado, pois sou instrutor de uma dança com matriz étnica e que tem suas raízes calcadas na voz e no sofrimento de um povo mesclado pela história, o andaluz.


Entrei num patamar onde me choca ao ver que esta arte tem um profundo respeito por aquilo que expressa as vivências, que são reais e existem, e que muitos brincam de representá-la. E daí não me interessa se aqueles que se expõem são amadores ou profissionais e nem o estado técnico do qual se apropriam em suas performances, mas sim do respeito à história de um povo ao qual não viveu ou nem pertence, aos estados das penas e das alegrias que representa sua arte, enfim aos estados da alma humana que aquele povo expõe nesta arte.

Aprofundei os estados dos sentimentos diversos que esta arte expressa e, como instrutor, tento despertar isso a quem estuda comigo respeitando suas limitações através das conquistas individuais durante os estudos de cada um. Como bem disse alguém que marcou meu estudo, "devemos estudar as diversas técnicas de dança para melhor liberar as emoções". Me marcou no filme Carmen, de Carlos Saura, o que disse a maestra Maria Magdalena na aula de castanholas que "a técnica existe à serviço de sua arte".


Quem sou eu? Apenas um artista com minhas (de)limitações que respeita as diversas formas de expressão desta arte mas com a consciência de que não brinco com ela e nem a desconstruo como muitos tem feito em torno dela...imagino em torno das outras artes!

A linguagem da arte é extensa e sempre será prazeroso aos olhos e ouvidos, ao menos aos meus, quando ela atinge e consegue expressar, independente da sua forma e textura, extamente aquilo que ela diz.


E nem por isso sou gênio, senhor dela ou mesmo o supra sumo do ensino dela. Esta arte tem expressões muito particulares de cada artista e isto apresenta-se de diversas formas hoje em dia. Ótimo! Ninguém sente a mesma emoção da mesma forma, mas com certeza a expressa do seu jeito e não brincando de expressar ou apenas no divino processo de exploração de sua plasticidade cênica.

Aliás, quem brinca com as emoções? Quais os seus limites? A Arte está aí pra isso. Ela diz "olhe, escute e sinta o que eu vejo, escuto e sinto".

Então se segure com as diversas formas de se expressarem sobre seu trabalho, seja ela apenas para lhe agradar ou seja ela para te dar relevâncias honestas sobre aquilo que diz esta arte e de como você se expressa nela aquilo que ela diz.

Arte é assim repleta de facetas, dogmas sociais que permeiam as visões do artista e o faz criar uma obra, sem plágios, sem cópias, sem inseguranças...

Mas seja fiel a ela e domine melhor o veículo de exposição e deixe sua alma sair nela.

É isso...

E daí vem a solitude "com" e "na" vida de um artista.


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