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segunda-feira, 23 de julho de 2018

A Heráldica da Infâmia

     Honrado cigano calon, conhecido por muitos como Dr. Oswaldo Macedo e que também foi presidente de honra do Centro de Estudos Ciganos enquanto ativo, a primeira organização da América Latina a pensar na etnia cigana, deixou marcas profundas naqueles que conheceram sua pessoa na convivência como a escritora Cristina da Costa Pereira que sempre se refere a ele com muito respeito e carinho e sempre o menciona em suas palestras quando o tema aborda a etnia cigana.

     Como bem disse Cristina as "palavras se perdem no vento, mas quando registradas como em um livro, se tornam eternas".

Transcrevo uma página de seu livro  Ciganos - natureza e cultura, ed. Imago, RJ, 1992, p.75, o texto que dá nome a este artigo e bem representa a atual conjuntura "cultural e artística" sobre a etnia.

     "Os ciganos não têm, nem nunca tiveram, brasão, insígnia ou emblemas para distinguir pessoas, famílias ou clã. São suficientemente sábios e sabidos para não ignorar os riscos que acarretam tais exibicionismos de muito agrado aos bufões, vassalos e validos dos poderosos.
     Os ciganos, através dos tempos, não poucas vezes foram marcados com sinetes infamantes, dado que a humanidade antiga não admitia que a infâmia não fosse permanente nem pública. Eram marcas, a ferro e fogo, em partes visíveis, ou roupas com sinais em cores específicas, gorros ou marcas indeléveis.
     É da antiguidade o poder dominante de dispor de um acervo, numeroso e variável, para marcar ciganos, lacrões, bruxas, feiticeiros, heréticos, portadores de certas doenças.
     Obrando com instrumental e juízo semelhante, também a Santa Inquisição e, contemporâneos, a Alemanha nazista e as ditaduras da América Latina.
     Todos tinham à disposição uma Heráldica de marcas para estigmatizar, principalmente, inocentes...
     A cada suspeito correspondia uma insígnia especial. Todas determinadas minuciosamente por autoridades seculares e religiosas, estatuídas nos cânones, ordenanças de reis e estatutos de comunas autorizadas pelos concílios e conciliábulos.

     Os ciganos nunca tiveram distinções heráldicas, só as infamantes impostas pelos nazistas, nos Campos de Concentração.
     Os ciganos não antropoformizam as forças naturais, nem os mistérios das energias cósmicas, planetária ou as que eles engendram - eis por que não são presentes na sua cultura máscaras, tótens, nem brasões. Para eles as representações dos mitos e as potencialidades espirituais se refletem dentro de cada um."

    E com isso deixo minha observação: quantos se passam por ciganos, assumem sua etnia  ou personalidade nos dias de hoje? E o quê dizer dos seus que esquecem e desonram os antepassados?

É, nada mais a dizer. Só observar o que literalmente "profetizava" o calon Oswaldo Macedo.


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