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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Diversidade religiosa dos Ciganos

Ciganos na Índia
Sempre acontecem no mês de maio as festas com temática cigana em adoração a famosa Santa Sara que está instalada numa cripta em San Marie de La Mér, Camargue, sul da França. A "devoção" parece assombrar e assumir vertentes ligadas aos admiradores da cultura Rhomá, das danças deste setor e de falanges em diversos tipos de centros  ditos espíritas.

Cabe aqui relembrar, pela enésima vez, que esta etnia não possui uma única religião e nem mesmo uma única língua. É um grupo que se adapta com muita facilidade nos países onde ficam. Isso quer dizer que assimilam a cultura local; mais especificamente se ficam muito tempo, assumem as vestes, a língua do país, alimentação e mesmo a religião local. O que há de comum neles é essa capacidade de sobreviverem nos países e é onde as formas da fala, os dialetos, se transformam e agregam palavras e expressões à língua. Este processo acaba por redefinir o grupo naquele local ou região que caracteriza o grupo. Não seria estranho, à exemplo, que um determinado grupo de ciganos não reconheça outro por terem diferenças muito gritantes entre eles. Mesmo assim, isso não determina que um ou outro grupo não seria pertencente a etnia por estas diferenças adquiridas ao longo do tempo. Quanto maior a permanência no local, maior serão as transformações nos seus costumes.  Na verdade, aglutinam ao que já trazem de outras andanças... e ainda assim, são diferentes em cada grupo mesmo sendo ciganos.

E a forma de se expressarem muda em função disso, mas ainda assim a língua mantém traços daquela mais distante considerada matriz. Uma derivação do sânscrito antigo falado no noroeste da Índia antiga. É dizer que o tronco da etnia tem uma raiz, mas cheia de galhos que tem suas diferenças. Quanto mais antigo ou novo o galho, maior podem ser as diferenças...

Mas o foco é a adoração a esta santa não canonizada. Subentende-se, não aceita como santa católica até hoje. Não cabe aqui citar a veracidade de sua história, mas sim de como os admiradores e xenófilos da etnia, aqui no Brasil, não percebem ou não querem acreditar nos fatos reais ligados às crenças da etnia.

Se eles mesmos se adaptam aos costumes locais, não é difícil entender que tomarão para si a(s) religião(ões) do local... encontraremos católicos, evangélicos, espíritas, wiccas, umbandistas e todas as formas por ondem passam. Devemos sempre levar em consideração algumas observações que determinarão suas crenças: a origem familiar, país de onde vieram e o país onde se encontram. Estes 3 dados podem ser determinantes na crença deles. Portanto, se tenho origem indiana provavelmente estarei herdando crenças de alguma religião da família e ainda poderei adotar a crença da onde vivo.

Com isso não é feio, errado ou mesmo ofensivo dizer que Santa Sara só é adorada por grupos daquela região e proximidades e que tenham em sua origem religiosa o catolicismo e derivadas. E em nada se relaciona com grupos de outros países salvo por alguma experiência pessoal ou familiar que justifique essa adoração. 

Já escrevi neste blog sobre "Místicas na dança" onde revelo o auto grau de fanatismo por ditos professores, alunos e seguidores das danças ditas ciganas e ensinadas aqui no Brasil, como sendo uma das prioridades conhecer, adorar e seguir essa santa.  Nada mais a declarar quando me lembro que no Leste Europeu, Grécia, Rússia ou mesmo na Índia os ciganos destes locais sequer sabem da existência dela.

E lanço outra vez a reflexão sobre ditos espíritos que se dizem ciganos e "adoram" essa santa. Ao questionarmos sua última encarnação como sendo pertencentes desta etnia, tornam-se contraditórios na adoração por não haver nenhum laço, nem mesmo histórico em tempo encarnado, que justifique o conhecimento e devoção a Santa Sara.

É duro ver que, depois de mais de 30 anos estudando as matrizes da cultura, que em nada tem a ver com o culto a Santa Sara como única e real ícone de toda a etnia rhomá.

Respeito a quem ela segue, seja cigano ou não, mas em nada deveria se relacionar com ciganos de todas as matrizes. Apenas peço para pensarem por qual razão no norte da Europa, na Grécia ou mesmo com os ciganos mais antigos do Brasil, os calons,  não é comum ouvir nada sobre Santa Sara! Os calons estão no Brasil, deportados de Portugal, desde 1560/1570 aproximadamente e aqui, como católicos, costumam reconhecer os santos regionais como Santo Antônio, São Jorge e, principalmente, Nossa Senhora de Aparecida.

Cuidado para não serem iguais aos personagens de uma novela conhecida chamada Roque Santeiro!

Só pensar, respeitar a diversidade religiosa desta etnia e, principalmente não ser um contribuinte das distorções culturais  empregadas ao longo da diáspora deles e nem achar que todos os ciganos no mundo são, apenas e tão somente, nômades e dar a premissa de que todo tipo de misticismo ou tipos de magia vem deles.

ciganos semi-nômades

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